sexta-feira, 25 de junho de 2010

Política


Cada vez fica mais claro como o pensamento conservador se articula

Patologias do indivíduo

Um dos mantras preferidos do pensamento conservador consiste em reduzir a ideia de liberdade à afirmação do indivíduo. Repetido de maneira compulsiva, tal mantra procura impor à sociedade a crença de que "liberdade" é simplesmente o nome que damos ao sistema de defesa dos interesses particulares dos indivíduos, de suas propriedades privadas e seus modos de expressão. No entanto, esta noção de liberdade talvez seja, no fundo, uma forma muito difundida de patologia social.
De fato, sofre-se muitas vezes por não se ser um indivíduo, ou seja, por não ter as condições sociais necessárias para a afirmação de uma individualidade almejada. No entanto, sofre-se também por ser apenas um indivíduo. Há um sofrimento vindo da incapacidade em pensar aquilo que, dentro de si mesmo, não se submete à forma coerente de uma pessoa fortemente individualizada. Infelizmente, este sofrimento, em vez de funcionar como motor de desenvolvimento subjetivo, muitas vezes se exterioriza e se transforma em medo social contra tudo o que parece colocar em xeque nossa "identidade", as "crenças do nosso povo".
Não é por outra razão que lá onde há a insistência em compreender a sociedade como um mero conjunto de indivíduos, há sempre o outro lado da moeda: a necessidade de expulsar, de levantar fronteiras contra tudo o que não porta a minha imagem. O que nos explica porque sociedades fortemente individualistas, como aquelas que encontramos nos EUA e em certos países europeus, são sempre assombradas pelo fantasma do corpo estranho que está prestes a invadi-las, a destruir seus costumes e hábitos arraigados. Não há individualismo sem lógica social da exclusão.
Por outro lado, como todos sabemos que o atomismo de ser apenas um indivíduo é dificilmente suportável, este isolamento tende, muitas vezes, a ser compensado com alguma forma de retorno a figuras de comunidades espirituais e religiosas. A vida contemporânea nos demonstrou que individualismo e religiosidade, liberalismo e restrições religiosas dogmáticas, longe de serem antagônicos, transformaram-se nos dois polos complementares e paradoxais do mesmo movimento pendular.
Muito provavelmente, teremos que conviver com os resultados políticos desta patologia social bipolar.
Cada vez fica mais claro como o pensamento conservador se articula, em escala mundial, através da restrição da pauta do debate social, ora apelando para as "liberdades individuais", ora para "nossos valores cristãos". Contra isso, temos que saber mostrar como o conceito de liberdade e de ação social podem ser reconstruídos para além destes equívocos.
A nosso favor, há uma bela tradição do pensamento que quer se fazer ouvir.

06/11/2010

SERRA TENTA UM TERCEIRO TURNO EM BIARRITZ. E PERDE DE NOVO

Na mesma sexta-feira em que o Presidente Lula fez um balanço das eleições, em cadeia nacional, no qual exortou situação e oposição a defenderem seus pontos de vista respeitando-se mutuamente, o candidato derrotado José Serra disparava uma saraivada de críticas ao chefe de Estado brasileiro em palestra proferida em Biarritz, na França.Depois de acusar o governo de se unir a ditaduras e, Lula, de praticar 'populismo de direita' em matéria econômica --numa referencia à valorização do real, que o solerte tucanoa acredita sr um probelma de cunho apenas nacional...-- , o ex-governador de SP foi interrompido pelo grito vindo da platéia: "Por qué no te callas!?". Houve um enorme alvoroço na sala e bate boca entre o conferencista e presentes --detalhes omitidos pela cobretura da mídia democtucana, naturalmente. Inútilmente. O episódio incorpora-se à biografia do candidato derrotado como uma espécie de bolinha de papel sonora que vai marcá-lo definitivamente, tanto quanto o episódio original. Urbi et orbe Serra justifica a fama de personagem arestoso, dotado de conveniente desapego à verdade e um reptilíneo pendor pelo método da calúnia.
Postado por Saul Leblon às 03:05



03/11/2010

A BALA DE PRATA PÚRPURA TRAZ A MÁCULA DA PEDOFILIA

Complacência com pedófilos na alta cúpula da Igreja sonega ao Vaticano autoridade moral sobre o voto cristão: 55% dos católicos brasileiros votam em Dilma e ignoram a aliança entre a extrema direita religiosa e política travestida em pacto anti-aborto, envelopado hoje com ares de súmula do Santo Ofício na primeira página da Folha. Foi preciso Lula lembrar que o Estado brasileiro é laico, enquanto o coro dos 'professores' tucanos acalenta a genuflexão das urnas a um Vaticano encralacrado no celibato pedófilo. Bento XVI ainda não subscreveu a Carta dos Direitos Humanos da ONU --porque não menciona Deus-- e retirou seu apoio à Unicef, que defende o planejamento familiar e o uso de preservativo contra a aids. A mesma ala da Igreja encastelada na Opus Dei, que agora apoia Serra, abençoou Salazar, em Portugal; Franco, na Espanha; Pinochet, no Chile; Videla, na Argentina e o Golpe de 64
Postado por Saul Leblon às 11:20



CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.

Meu caro Fernando


Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assiada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.
No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço

Teotonio Dos Santos
thdossantos@terra.com.br, /theotoniodossantos.blogspot.com/

Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Início » Blogs » Blog de luisnassif

A Petrobrax e o governo FHC

Enviado por luisnassif, qua, 27/10/2010 - 09:29


Por Felipe Marun


A verdade sobre a tentativa de mudança do nome PetroBRAX pelo governo FHC

** Folha Online - Dinheiro - Petrobras muda de nome e passará a ser Petrobrax - 26/12/2000

A Petrobras anunciou hoje a mudança da marca da empresa, que passará a se chamar Petrobrax.


** Folha Online - Dinheiro - Presidente da Petrobras diz que atual marca é muito associada ao Brasil - 26/12/2000
Segundo o presidente da companhia, Henri Philippe Reichstul, a atual marca, BR, é muito associada ao Brasil e ao Estado brasileiro.


** Folha Online - Dinheiro - Petrobras muda nome para facilitar expansão internacional - 26/12/2000


O presidente da companhia, Henri Philippe Reichstul, disse que a mudança, estudada durante oito meses e já aprovada pelo conselho de administração, ganhou na semana passada o aval do presidente Fernando Henrique Cardoso.


argumentos favoráveis à mudança foi que o sufixo brás estaria, internamente, associado à idéia de ineficiência estatal.


"Perdemos o monopólio em 1997, mas o nome (da empresa) continuava associado a ele", disse Reichstul.


** Folha Online - Dinheiro - Congresso questiona mudança do nome da Petrobras - 27/12/2000


O presidente da frente, deputado Vivaldo Barbosa(PDT-RJ), afirmou que está preocupado e indignado com o que classificou de 'decisão unilateral'' dos atuais dirigentes da empresa.


** Folha Online - Brasil - Senadores debatem mudança de nome da Petrobras - 28/12/2000

Em aparte ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que criticou os gastos de R$ 70 milhões na mudança do nome Petrobras para Petrobrax, o senador Edison Lobão (PFL-MA) disse que há assuntos mais importantes para tratar.


Já o senador Roberto Requião (PMDB-PR) acusou a direção da Petrobras de cometer "maracutaia" no processo de mudança do nome e do símbolo da empresa. A senadora Heloisa Helena (PT-AL) criticou também a mudança e os negócios feitos pelo governo "na calada da noite", sem qualquer explicação à sociedade.


** Folha Online - Dinheiro - Petrobras rebate críticas à mudança do nome para Petrobrax - 28/12/2000


Hoje a Frente Parlamentar Nacionalista decidiu entrar com uma ação no Ministério Público questionando os prejuízos com a alteração.


Sindicalistas vêem na nova marca o primeiro passo para a privatização da Petrobras.

** Folha Online - Dinheiro - TCU vai investigar mudança do nome da Petrobras - 28/12/2000


O pedido de auditoria será feito pela Frente Parlamentar de Defesa do Brasil, que reúne mais de cem parlamentares no Congresso.


De acordo com o presidente da entidade, deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ), a empresa foi contratada sem licitação.


Os deputados da frente vão apresentar ainda hoje à mesa diretora da Câmara um projeto para anular todos os efeitos dos atos da Petrobras que levaram à mudança do nome da empresa para Petrobrax.

Além disso, os parlamentares vão entrar com uma representação no Ministério Público para que ele tome as medidas necessárias contra a decisão.

Os deputados ainda entrarão com uma ação popular na Justiça com pedido de liminar proibindo a mudança do nome.

* Folha Online - Dinheiro - FHC manda Petrobras abandonar Petrobrax, diz senador - 28/12/2000

O líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), disse há pouco que o presidente Fernando Henrique Cardoso determinou pessoalmente ao presidente da Petrobras, Philippe Reichstul, a interrupção definitiva do projeto de alteração do nome da estatal.


"Não há por que insistir numa providência que não tenha aprovação da opinião pública", disse Arruda.


** Folha Online - Dinheiro - Reichstul confirma desistência do nome Petrobrax - 28/12/2000


A nota assinada pelo presidente da empresa, Henri Philippe Reichstul, determina à área de marketing da companhia "a suspensão das providências para mudança da marca fantasia da empresa".


Links para as matérias:
http://search.folha.com.br/search?q=petrobrax&site=online&sd=26/12/2000&...



O relato de um ex-guerrilheiro

A parceria da “Folha” com a ditadura

publicada sexta-feira, 17/04/2009 às 22:03 e atualizada terça-feira, 26/10/2010 às 18:35

A “Folha” prepara-se para atacar Dilma Rousseff – com uma “reportagem bombástica”. A “Folha” quer mostrar a “Dilma guerrilheira”. Quer abrir arquivos, só os arquivos da Dilma (e os outros?) para gerar constrangimentos à candidata. Ok. Função de jornal não é agradar ninguém. Mas por que a “Folha” não faz o mesmo com o passado de Serra? Como ele viveu no Chile? Por que fugiu do Brasil? Onde foi parar o dinheiro que a UNE tinha guardado num cofre, em 1964, quando Serra presidia a entidade? A “Folha” não quer saber.
Além disso, a “Folha” tem um passado nebuloso de parceria com a ditadura. Não é o jornal mais indicado para levantar nenhuma suspeita, sobre fato nenhum, envolvendo a ditadura.
Republico, abaixo, entrevista desse Escrevinhador (feita no ano passado) com Carlos Eugênio Paz. Ele foi líder da ALN – uma das organizações que lutaram contra a ditadura, de armas na mão. E afirma, com todas a letras: “o Sr Frias [pai do atual diretor do jornal] ajudou a financiar a Oban”.
A “Folha é também o jornal que demitiu uma jornalista presa (e torturada) pela ditadura, por “abandono de emprego”. Como você pode ler aqui.
A “Folha” era parceira de um regime que torturava. Tem um mérito: não mudou de lado!
Esse é o jornal que quer investigar o passado de Dilma.

(texto originalmente publicado em abril de 2009)

Carlos Eugênio Paz é um dos entrevistados no documentário “Cidadão Boilesen”, premiado como “melhor filme” no festival “É Tudo Verdade”.

O documentário conta a história de Albert Boilesen, executivo do grupo Ultragás que – segundo várias testemunhas – colaborou ativamente com o DOI-CODI (aparato de tortura e repressão montado durante a ditadura militar), e chegou a assistir sessões de tortura.
Como represália, Boilesen acabou morto por um comando da ALN – a Ação Libertadora Nacional. A ALN era uma das organizações de esquerda armada que lutaram contra a ditadura militar no Brasil.

Carlos Eugênio Paz foi militante da ALN*. Na luta armada, ele usava o codinome de “Clemente”.

O “Escrevinhador” entrevistou Carlos Eugênio sobre o envolvimento do “Grupo Folha de S. Paulo” com o aparato repressivo: “Houve companheiros que, presos nas mão do DOI-CODI, foram transportados em carros da Folha ”, disse o ex-guerrilheiro. “O Grupo Folha apoiou o golpe de estado, financiou e participou diretamente da repressão e jamais fez autocrítica disso”, acrescentou.
Perguntei a Carlos Eugênio se a ALN planejou alguma ação direta contra a família Frias, na linha da execução de Boilesen: “Não (…),mas poderíamos ter chegado a isso, dada a participação direta deles na guerra, escolhendo o lado da ditadura de direita.”
O envolvimento dos Frias com o DOI-CODI não aparece só nos relatos de ex-militantes.
Em seu livro “Ditadura Escancarada” Élio Gáspari (hoje, curiosamente, colunista da “Folha”) publica (sem grande alarde, porque ele não está aqui para causar constrangimentos à família Frias) uma informação interessante:
“Carros da empresa [Folha] eram emprestados ao DOI, que os usava como cobertura para transportar presos na busca de ‘pontos’ ” (p. 395).
Podem checar: a frase está lá no livro do Gáspari.
Os Frias nunca negaram o fato. Fingem-se de mortos. Talvez, não seja mais suficiente. Até porque, daqui a pouco pode aparecer alguém pra fazer um documentário sobre o “Cidadão Frias”. Material e testemunhas não faltam.

(a seguir, a íntegra da entrevista com Carlos Eugênio Paz, feita por e-mail)

1) Durante o período em que voce esteve à frente da ALN (1970/1972) , soube do envolvimento direto do grupo “Folha” com a OBAN/DOI-CODI?

O Grupo Folha, que apoiou o golpe de estado de direita de 31 de março de 1964 desde suas primeiras horas – basta ver as manchetes, as reportagens e os editoriais da Folha de São Paulo da época -, colaborou diretamente com a repressão política. Carros de suas publicações eram usados para disfarçar investigações e cercos e chegaram inclusive a transportar companheiros presos para o DOI-CODI. Agentes da Operação Bandeirantes serviam-se dos carros do grupo para transitarem sem serem identificados por nós como policiais.

2) A ALN chegou queimar carros da “Folha”? Por quê?

Sim, a Ação Libertadora Nacional queimou vários carros da Folha como represália à participação do Grupo Folha no financiamento da repressão e o uso de seus carros na repressão direta. Ao fazer isso, o Grupo Folha, participando diretamente da guerra, era passível de sofrer as sanções e as represálias da guerra.

3) A Familia Frias teria se mudado para o prédio do jornal, nos anos 70, temendo represálias dos grupos de esquerda. ALN chegou a planejar alguma ação contra o jornal ou os Frias?

A ALN não chegou a planejar nenhuma ação desse tipo, mas poderíamos ter chegado a isso, dada a participação direta deles na guerra, escolhendo o lado da ditadura de direita.

4) ALN chegou a elaborar lista com nomes dos principais financiadores da OBAN? Quem estava nessa lista? Alguém ligado à “Folha” constava? Havia provas contundentes? Sobrou algum documento da organização da época que faça referencia a isso?

A ALN tinha conhecimento de vários financiadores da OBAN. Entre eles estavam o Sr. Frias, Presidente do Grupo Folha, o Presidente da Ultragás, Henning Albert Boilesen, o Presidente do Grupo Ultra, Peri Igel, o Presidente do Banco Brasileiro de Descontos – Bradesco, Amador Aguiar, o Presidente da FIESP, Theobaldo de Nigris, que inclusive cedia a sede desta entidade para reuniões arrecadatórias, e muitos outros. Havia provas cabais e contundentes. Uma amostra disso foi o justiçamento de Boilensen, que mesmo na época ficou claro ser um quadro do sistema repressivo. Hoje, com o filme “Cidadão Boilesen”, de Chaim Litewski, mais ainda. Como todos sabem, numa luta clandestina pouco se escreve por motivos de segurança, então evitávamos colocar no papel esse tipo de informação. Mesmo assim, alguns companheiros às vezes cometiam esse tipo de erro. Dessa maneira, em alguns aparelhos abandonados às pressas ou tomados pela repressão, chegaram a cair alguns papéis com nomes dessa lista. Quando os arquivos do DOI-CODI forem finalmente abertos, a população poderá tomar conhecimento de muitos fatos como esse.

5) Em seu livro (“Viagem à Luta Armada”) , você relata o caso de Solange (militante que foi torturada na OBAN, sobreviveu, e depois ajudou a reconhecer Boilesen como torturador). Você lembra de algum militante de esquerda ter dado informações diretas, semelhantes às de Solange, sobre a presença de carros da “Folha” nas operações da OBAN?

Lembro sim. Houve companheiros que, presos nas mão do DOI-CODI, foram transportados em carros da Folha. Assim como fiz no caso da companheira Solange, reservo-me o direito de não citar seus nomes, por respeito a eles e às normas de segurança. Quero dizer que compreendo o desejo de sigilo por parte de todos os companheiros da ALN e sempre o respeitarei.

6) Como avaliou o fato de a “Folha” – que nunca se pronunciou sobre esses episódios nebulosos – ter se referido à ditadura como “ditabranda”, em recente editorial?

O Grupo Folha apoiou o golpe de estado, financiou e participou diretamente da repressão e jamais fez autocrítica disso. Aliás, comportamento adotado pela direita brasileira em seu conjunto. Hoje falam de democracia como se tivessem sido democratas a vida inteira. Roberto Marinho, por ocasião de seu falecimento, foi saudado como um democrata, Frias também. Grupos econômicos que financiaram a repressão hoje saúdam a democracia. Um dos defensores e redatores do AI-5, o Cel. Jarbas Passarinho, posa de tolerante e democrata. Ao mesmo tempo, quando falamos de abrir os arquivos da ditadura, quando pedimos os corpos de nossos desaparecidos para que suas famílias possam enfim chorá-los e descansar, quando queremos saber como esses assassinatos foram perpetrados, muitas vozes se levantam nos acusando de revanchistas. O Grupo Folha está, quando fala de “ditabranda”, onde sempre esteve, à direita da sociedade, e defende a ditadura. Talvez eles achem que se devesse, na época, ter cometido ainda mais e mais graves crimes contra o povo brasileiro.

* A ALN foi comandada por Carlos Marighella até 1969 – quando o legendário militante comunista foi morto numa emboscada na alameda Casa Branca, em São Paulo. No lugar dele, assumiu Joaquim Câmara Fereira, o “Toledo” – que também morreu (sob tortura), em 1970.

Marighella e Toledo eram velhos militantes, formados na escola do Partidão. Romperam com o PCB e lançaram-se à luta armada nos anos 60. Mas sempre foram quadros políticos, mais do que quadros militares.

Depois da morte dos dois, a ALN passou a ser comandada por uma geração que já entrara na militância de armas na mão. Carlos Eugênio Paz fazia parte dessa geração. Quem quiser saber um pouco mais sobre a história de Carls Eugênio/Clemente pode ler:

- “Viagem à Luta Armada”, relato autobiográfico de Carlos Eugênio (Editora BestBolso);

- ou “Clemente” , de Denise Rollemberg – trata-se de um dos capítulos do livro “Perfis Cruzados” (Editora Imago) , obra organizada por Beatriz Kushnir.

Compartilhe



Postado por Brizola Neto
Uma carta ao Noblat

Deus me livre de que o tempo me corroa a humildade e me faça querer ser dono da verdade, destes que não ouvem com o coração e não escrevem com alma.


E que me permita um dia, quando os cabelos – se restarem – ficarem brancos, escrever como o aposentado Carlos Moura, da mineira Além Paraíba, faz hoje numa carta aberta ao jornalista Ricardo Noblat, respondendo a uma agressão insólita e desnecessária que fez, ontem, em seu blog, a Lula, dizendo que lhe falta, desde que decidiu eleger Dilma, “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.


A carta de Moura foi publicada no Escrevinhador, de Rodrigo Vianna, e eu a reproduzo aqui:


Noblat

Quem é você para decidir pelo Brasil (e pela História) quem é grande ou quem deixa de ser? Quem lhe deu a procuração? O Globo? A Veja? O Estadão? A Folha?
Apresento-me: sou um brasileiro. Não sou do PT, nunca fui. Isso ajuda, porque do contrário você me desclassificaria, jogando-me na lata de lixo como uma bolinha de papel. Sou de sua geração. Nossa diferença é que minha educação formal foi pífia, a sua acadêmica. Não pude sequer estudar num dos melhores colégios secundários que o Brasil tinha na época (o Colégio de Cataguases, MG, onde eu morava) porque era só para ricos. Nas cidades pequenas, no início dos sessenta, sequer existiam colégios públicos. Frequentar uma universidade, como a Católica de Pernambuco em que você se formou, nem utopia era, era um delírio.
Informo só para deixar claro que entre nós existe uma pedra no meio do caminho. Minha origem é tipicamente “brasileira”, da gente cabralina que nasceu falando empedrado. A sua não. Isto não nos torna piores ou melhores do que ninguém, só nos faz diferentes. A mesma diferença que tem Luis Inácio em relação ao patriciado de anel, abotoadura & mestrado. Patronato que tomou conta da loja desde a época imperial.
O que você e uma vasta geração de serviçais jornalísticos passaram oito anos sem sequer tentar entender é que Lula não pertence à ortodoxia política. Foi o mesmo erro que a esquerda cometeu quando ele apareceu como líder sindical. Vamos dizer que esta equipe furiosa, sustentada por quatro famílias que formam o oligopólio da informação no eixo Rio-S.Paulo – uma delas, a do Globo, controlando também a maior rede de TV do país – não esteja movida pelo rancor. Coisa natural quando um feudo começa a dividir com o resto da nação as malas repletas de cédulas alopradas que a União lhe entrega em forma de publicidade. Daí a ira natural, pois aqui em Minas se diz que homem só briga por duas coisas: barra de saia ou barra de ouro.
O que me espanta é que, movidos pela repulsa, tenham deixado de perceber que o brasileiro não é dançarino de valsa, é passista de samba. O patuá que vocês querem enfiar em Lula é o do negrinho do pastoreio, obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo relho. O sotaque que vocês gostam é o nhém-nhém-nhém grã-fino de FHC, o da simulação, da dissimulação, da bata paramentada por láureas universitárias. Não importa se o conteúdo é grosseiro, inoportuno ou hipócrita (“esqueçam o que eu escrevi”, “ tenho um pé na senzala” “o resultado foi um trabalho de Deus”). O que vale é a forma, o estilo envernizado.
As pessoas com quem converso não falam assim – falam como Lula. Elas também xingam quando são injustiçadas. Elas gritam quando não são ouvidas, esperneiam quando querem lhe tapar a boca. A uma imprensa desacostumada ao direito de resposta e viciada em montar manchetes falsas e armações ilimitadas (seu jornal chegou ao ponto de, há poucos dias, “manchetar” a “queda” de Dilma nas pesquisas, quando ela saiu do primeiro turno com 47% e já entrou no segundo com 53 ) ficou impossível falar com candura. Ao operário no poder vocês exigem a “liturgia” do cargo. Ao togado basta o cinismo.
Se houve erro nas falas de Lula isto não o faz menor, como você disse, imitando o Aécio. Gritos apaixonados durante uma disputa sórdida não diminuem a importância histórica de um governo que fez a maior revolução social de nossa História. E ainda querem que, no final de mandato, o presidente aguente calado a campanha eleitoral mais baixa, desqualificada e mesquinha desde que Collor levou a ex-mulher de Lula à TV.
Sordidez que foi iniciada por um vendaval apócrifo de ultrajes contra Dilma na internet, seguida das subterrâneas ações de Índio da Costa junto a igrejas e da covarde declaração de Monica Serra sobre a “matança de criancinhas”, enfiando o manto de Herodes em Dilma. Esse cambapé de uma candidata a primeira dama – que teve o desplante de viajar ao seu país paramentada de beata de procissão, carregando uma réplica da padroeira só para explorar o drama dos mineiros chilenos no horário eleitoral – passou em branco nos editoriais. Ela é “acadêmica”.
A esta senhora e ao seu marido você deveria também exigir “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.
Você não vai “decidir” que Lula ficou menor, não. A História não está sendo mais escrita só por essa súcia de jornais e televisões à qual você pertence. Há centenas de pessoas que, de graça, sem soldos de marinhos, mesquitas, frias ou civitas, estão mostrando ao país o outro lado, a face oculta da lua. Se não houvesse a democracia da internet vocês continuariam ladrando sozinhos nas terras brasileiras, segurando nas rédeas o medo e o silêncio dos carneiros.

Carlos Torres Moura
Além Paraíba-MG



Blog do Zé
O Escândalo Daniel Dantas - duas investigações"


Publicado em 26-Out-2010

Raimundo Pereira faz uma radiografia do caso Daniel Dantas...

Recomendo a todos vocês, leitoras e leitores deste blog, a leitura do magnífico trabalho do jornalista editor-chefe da Revista Retrato do Brasil, Raimundo Pereira, "O Escândalo Daniel Dantas - duas investigações". Em poucas palavras, um exemplo de reportagem jornalística daquelas que raramente encontramos hoje em dia.
Desfechada pela Polícia Federal, a Operação Satiagraha que investigava o desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro resultou na prisão de vários banqueiros, diretores de banco e investidores. Dentre eles, o dono do Banco Opportunity, preso em 2008.
A partir deste livro do editor chefe da revista Retrato do Brasil, vocês poderão compreender os bastidores e o que esteve em jogo durante as idas e voltas da Operação Satiagraha e daquele que se tornou um dos mais famosos escândalos financeiros do país.
Uma investigação séria sobre nossa política, economia, jornalismo e sobre o trabalho da justiça e da polícia, para o qual Raimundo gravou mais de 15 horas de entrevistas com Daniel Dantas, debruçou-se sobre 10 mil páginas de documentos e conversou com vários dos envolvidos no caso. Não deixem de ler.


Jogo sujo de José Serra:Polícia apreende panfletos contra Dilma com cabos eleitorais de José Serra


Panfletos com ataques à candidata Dilma Rousseff (PT) foram apreendidos com cabos eleitorais do PSDB na periferia de São Paulo. Com o título "É esse o presidente que você quer para o nosso país?", eles reproduzem uma falsa ficha de Dilma no Dops.

César Lisboa Bastos, que disse trabalhar para a campanha de José Serra, confirmou ao Globo a autoria dos panfletos.

Marinalva Félix Anacleto, que afirmou à polícia ser filiada ao PSDB há cinco anos, estava com uma sacola com 101 panfletos.Ela e outros cabos eleitorais foram levados ao 46º Distrito Policial e disseram ter sido contratados para trabalhar no segundo turno.

Os cabos eleitorais foram indiciados por difamação na propaganda eleitoral. O comando da campanha de Serra diz que não falam sobre o assunto


Extraído do site da CartaCapital:
Auditoria comprova sumiço de recursos federais em SP

Por Leandro Fortes
Quando assumir, pela terceira vez, o governo do estado de São Paulo em 1º de janeiro de 2011, o tucano Geraldo Alckmin terá que prestar contas de um sumiço milionário de recursos federais do Ministério da Saúde dimensionado, em março passado, pelo Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus). O dinheiro, quase 400 milhões de reais, deveria ter sido usado para garantir remédios de graça para 40 milhões de cidadãos, mas desapareceu na contabilidade dos governos do PSDB nos últimos 10 anos. Por recomendação dos auditores, com base na lei, o governo paulista terá que explicar onde foram parar essas verbas do SUS e, em seguida, ressarcir a União pelo prejuízo.
O relatório do Denasus foi feito a partir de auditorias realizadas em 21 estados. Na contabilidade que vai de janeiro de 1999 e junho de 2009. Por insuficiência de técnicos, restam ainda seis estados a serem auditados. O número de auditores-farmacêuticos do País, os únicos credenciados para esse tipo de fiscalização, não chega a 20. Nesse caso, eles focaram apenas a área de Assistência Farmacêutica Básica, uma das de maior impacto social do SUS. A auditoria foi pedida pelo Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF), ligado à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, para verificar denúncias de desvios de repasses de recursos do SUS para compra e distribuição de medicamentos nos sistemas estaduais de saúde.
O caso de São Paulo não tem parâmetro em nenhuma das demais 20 unidades da federação analisadas pelo Denasus até março de 2010, data de fechamento do relatório final. Depois de vasculhar todas as nuances do modelo de gestão de saúde estadual no setor de medicamentos, os analistas demoraram 10 meses para fechar o texto. No fim das contas, os auditores conseguiram construir um retrato bem acabado do modo tucano de gerenciar a saúde pública, inclusive durante o mandato de José Serra, candidato do PSDB à presidência. No todo, o período analisado atinge os governos de Mário Covas (primeiro ano do segundo mandato, até ele falecer, em março de 2001); dois governos de Geraldo Alckmin (de março de 2001 a março de 2006, quando ele renunciou para ser candidato a presidente); o breve período de Cláudio Lembo, do DEM (até janeiro de 2007); e a gestão de Serra, até março de 2010, um mês antes de ele renunciar para disputar a eleição.
Ao se debruçarem sobre as contas da Secretaria Estadual de Saúde, os auditores descobriram um rombo formidável no setor de medicamentos: 350 milhões de reais repassados pelo SUS para o programa de assistência farmacêutica básica no estado simplesmente desapareceram. O dinheiro deveria ter sido usado para garantir aos usuários potenciais do SUS acesso gratuito a remédios, sobretudo os mais caros, destinados a tratamentos de doenças crônicas e terminais. É um buraco e tanto, mas não é o único.
A avaliação dos auditores detectou, ainda, uma malandragem contábil que permitiu ao governo paulista internalizar 44 milhões de reais do SUS nas contas como se fossem recursos estaduais. Ou seja, pegaram dinheiro repassado pelo governo federal para comprar remédios e misturaram com as receitas estaduais numa conta única da Secretaria de Fazenda, de forma ilegal. A Constituição Federal determina que para gerenciar dinheiro do SUS os estados abram uma conta específica, de movimentação transparente e facilmente auditável, de modo a garantir a plena fiscalização do Ministério da Saúde e da sociedade. Em São Paulo essa regra não foi seguida. O Denasus constatou que os recursos federais do SUS continuam movimentados na Conta Única do Estado. Os valores são transferidos imediatamente depois de depositados pelo ministério e pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), por meio de Transferência Eletrônica de Dados (TED).
Em fevereiro, reportagem de CartaCapital demonstrou que em três dos mais desenvolvidos estados do País, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, todos governados pelo PSDB, e no Distrito Federal, durante a gestão do DEM, os recursos do SUS foram, ao longo dos últimos quatro anos, aplicados no mercado financeiro. O fato foi constatado pelo Denasus após um processo de auditoria em todas as 27 unidades da federação. Trata-se de manobra contábil ilegal para incrementar programas estaduais de choque de gestão, como manda a cartilha liberal seguida pelos tucanos e reforçada, agora, na campanha presidencial. Ao todo, de acordo com os auditores, o prejuízo gerado aos sistemas de saúde desses estados passava, à época, de 6,5 bilhões de reais, dos quais mais de 1 bilhão de reais apenas em São Paulo.
Ao analisar as contas paulistas, o Denasus descobriu que somente entre 2006 e 2009, nos governos de Alckmin e Serra, dos 77,8 milhões de reais do SUS aplicados no mercado financeiro paulista, 39,1 milhões deveriam ter sido destinados para programas de assistência farmacêutica – cerca de 11% do montante apurado, agora, apenas no setor de medicamentos, pelos auditores do Denasus. Além do dinheiro de remédios para pacientes pobres, a primeira auditoria descobriu outros desvios de dinheiro para aplicação no mercado financeiro: 12,2 milhões dos programas de gestão, 15,7 da vigilância epidemiológica, 7,7 milhões do combate a DST/Aids e 4,3 milhões da vigilância epidemiológica.
A análise ano a ano dos auditores demonstra ainda uma prática sistemática de utilização de remédios em desacordo com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) estabelecida pelo Ministério da Saúde, atualizada anualmente. A lista engloba medicamentos usados nas doenças mais comuns pelos brasileiros, entre os quais antibióticos, antiinflamatórios, antiácidos e remédios para dor de cabeça. Entre 2006 e 2008, por exemplo, dos 178 medicamentos indicados por um acordo entre a Secretaria de Saúde de São Paulo e o programa de Assistência Farmacêutica Básica do Ministério da Saúde, 37 (20,7%) não atendiam à lista da Rename.
Além disso, o Denasus constatou outra falha. Em 2008, durante o governo Serra, 11,8 milhões do Fundo Nacional de Saúde repassados à Secretaria de Saúde de São Paulo para a compra de remédios foram contabilizados como “contrapartida estadual” no acordo de Assistência Farmacêutica Básica. Ou seja, o governo paulista, depois de jogar o recurso federal na vala comum da Conta Única do Estado, contabilizou o dinheiro como oriundo de receitas estaduais, e não como recurso recebido dos cofres da União.
Apenas em maio, dois meses depois de terminada a auditoria do Denasus, a Secretaria Estadual de Saúde resolveu se manifestar oficialmente sobre os itens detectados pelos auditores. Ao todo, o secretário Luís Roberto Barradas Barata, apontado como responsável direto pelas irregularidades por que era o gestor do sistema, encaminhou 19 justificativas ao Denasus, mas nenhuma delas foi acatada. “Não houve alteração no entendimento inicial da equipe, ficando, portanto, mantidas todas as constatações registradas no relatório final”, escreveram, na conclusão do trabalho, os auditores-farmacêuticos.
Barata faleceu em 17 de julho passado, dois meses depois de o Denasus invalidar as justificativas enviadas por ele. Por essa razão, a discussão entre o Ministério da Saúde e o governo de São Paulo sobre o sumiço dos 400 milhões de reais devidos ao programa de Assistência Farmacêutica Básica vai ser retomada somente no próximo ano, de forma institucional.



O Conversa Afiada reproduz comunicado do PT sobre a polêmica licitação do metrô de SP:


Fraude no Metrô: PT pede na Justiça suspensão de licitação e afastamento dos responsáveis


A Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo está requerendo dos Ministérios Públicos Federais e Estadual a suspensão da licitação de concorrência dos lotes de 3 a 8 da Linha 5 (Lilás) do Metrô, cuja fraude foi denunciada nesta terça-feira (26/10), pelo jornal Folha de S. Paulo. (leia a notícia: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2748).


Os deputados do PT requerem que sejam expedidas liminares para a suspensão da referida concorrência (nº 41428212), determinar a preservação de todas as propostas comerciais apresentadas e que se determine o afastamento dos responsáveis até conclusão das investigações.


A representação solicitada que seja aberto inquérito para apurar a ilegalidade, inconstitucionalidade e improbidade na conduta do ex e do atual governadores, José Serra e Alberto Goldman, respectivamente, do presidente do Metrô, José Jorge Fagali e do secretário estadual de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella.


Caso Alstom e contrato da Linha 4


As irregularidades existentes nas contratações do Metrô são conhecidas há tempos. Em 6/5/2008, o jornal Valor Econômico, reproduzindo o The Wall Street Journal, denunciou supostos pagamentos de propinas pela empresa francesa Alstom, no valor aproximado de US$ 200 milhões, a autoridades de vários países da Ásia e da América Latina, entre as quais o Brasil.


No Brasil, parcela das autoridades envolvidas nos indícios de recebimentos de propinas ocuparia cargos no Metrô.


Outro problema de grande dimensão ocorrido no Metrô foi em relação ao contrato da Linha 4-Amarela, no qual o Metrô havia feito a exigência de utilização do equipamento conhecido como “tatuzão” – shield – eliminando do certame licitatório diversas empresas que estariam habilitadas para fazer as obras por outro método construtivo. Posteriormente, já assinado o contrato, a companhia alterou o método construtivo, deixando de exigir a utilização do equipamento.


Se não bastasse, existem diversas suspeitas de irregularidades nos termos de aditamento contratual que alteraram os valores iniciais dos contratos. (veja a representação em: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2752).


Clique aqui para ler “Escândalo: licitação do metrô de Serra era de carta marcada”.



Jornalista prova que promessas de Serra são impraticáveis



O jornalista André Siqueira, sub-editor de Economia da revista Carta Capital, decidiu fazer algumas contas e demonstrou objetivamente que o candidato à presidência da República do PSDB, José Serra, não tem como cumprir uma série de promessas que vem fazendo na campanha eleitoral.


Fonte: Blog do Kayser


Em primeiro lugar, Serra teria que rasgar a cartilha de gestão pública de seu partido, que critica os gastos públicos do governo Lula. E nem assim o tucano conseguiria elevar o salário mínimo para 600 reais, instituir um 13° pagamento para o Bolsa Família ou reajustar em 10% as aposentadorias. “É de causar espanto a falta de olhar crítico da mídia para as promessas do candidato José Serra, impraticáveis diante dos paradigmas de gestão tucanos”, escreve Siqueira. Trata-se de um devaneio do candidato, acrescenta.
Vamos aos números analisados por André Siqueira:
“Consta no Orçamento de 2011 a proposta de elevar o salário mínimo para 538,14 reais. Serra propõe desembolsar 61,86 reais a mais por assalariado, para atingir os 600 reais. Apenas essa promessa de campanha custaria, portanto, 12,3 bilhões de reais. O montante é próximo ao orçamento total do programa Bolsa Família, atualmente em 13,7 bilhões de reais. Aliás, criar uma parcela a mais para o programa acrescentaria 1,14 bilhão de reais ao cálculo – em valores correntes. Finalmente, há o reajuste dos benefícios da Seguridade Social. Nesse caso, apelo ao cálculo do economista do Ipea, Marcelo Caetano, que avaliou em 6,2 bilhões de reais o esforço adicional exigido pelo presente oferecido pelo tucano aos aposentados e pensionistas”.
No total, assinala o jornalista da Carta Capital, as promessas de Serra custariam cerca de 19,6 bilhões de reais aos cofres públicos. André Siqueira consultou, então, o especialista em contas públicas, Amir Khair, ex-secretário de Finanças de São Paulo, para indagar sobre a viabilidade das promessas de Serra, que batem de frente, sempre é bom lembrar, com as críticas que o próprio candidato e seu partido fazem ao que consideram ser “excesso de gastos” do governo Lula. Em primeiro lugar, Khair lembra que o gasto federal corresponde a uma parcela de 43% dos desembolsos totais do setor público. O restante fica a cargo das prefeituras e estados. Em segundo, assinala, cerca de 80% do orçamento federal está legalmente engessado com salários e outras obrigações constitucionais.
Considerando a pouca margem de manobra que resta ao Executivo, Khair imagina que um “choque de gestão”, – a receita preferida do PSDB – permitiria um corte de aproximadamente 30%. Seria um “sacrifício extraordinário”, diz o economista, e equivaleria a 2,58% do gasto público nacional, algo em torno de 9,9 bilhões de reais. Ou seja, mesmo se fizesse isso, Serra estaria conseguindo apenas a metade dos recursos necessários para cumprir suas promessas de aumentar o salário mínimo para 600 reais, de reajustar em 10% as aposentadorias e de conceder um 13° pagamento ao Bolsa Família. “E ele continua a criticar o endividamento público. Ao mesmo tempo em que promete elevar gastos sociais, ampliar investimentos e cortar impostos. Como, José?”, indaga o jornalista.
Fonte: Blog Dilma na rede



Carta Capital

O caluniador, figura da barbárie
por Juarez Guimarães, na Carta Capital

De todas as eleições presidenciais realizadas após a redemocratização, esta é certamente aquela que a calúnia cumpre um papel mais central na definição do voto. Ela foi utilizada em um momento decisivo por Collor contra Lula, compareceu sempre todas as vezes nas quais Lula foi candidato mas agora ela mudou de intensidade e abrangência, tornou-se multiforme e onipresente.
A calúnia foi ao centro da nossa vida democrática. A senhora ao lado no ônibus me diz que recebeu a informação que Dilma desafiou Jesus Cristo em um comício realizado na Praça da Estação, em Belo Horizonte. O motorista de táxi conta que um médico lhe assegurou que um outro médico, seu amigo, diagnosticou gonorréia em Dilma.
Um e-mail recebido traz documento do TSE impugnando a candidatura de Dilma por ter “ficha suja”. Um aluno me diz ter recebido carta em casa da Regional 1 da CNBB, contendo mensagem para não votar em Dilma por ser contra a vida. Um comerciante na papelaria me diz que “não vota em bandida”. Após divulgar o resultado da primeira pesquisa Sensus/CNT para o segundo turno, o sociólogo Ricardo Guedes, afirmou que “nessa eleição, principalmente no final do primeiro turno, temos um fenômeno sociológico de natureza cultural de desconstrução de imagem. O processo de difamação, até certo ponto, pegou.” Quem conhece alguém que não recebeu uma calúnia contra Dilma ?
Houve uma mudança nos meios: a internet permite o anonimato e a profusão da calúnia. A Igreja brasileira, sob a pressão de mais de duas décadas de Ratzinger, tornou-se mais conservadora na sua cúpula e mobiliza hoje uma mensagem de ultra-direita, como não se via desde 1964. A mídia empresarial brasileira, já se sabia, vinha trilhando o seu caminho de partidarização e difamação pública, no qual até o direito de resposta tornou-se um crime contra a liberdade de expressão. Mas tudo isso não havia encontrado ainda o seu ponto de fusão: agora, sim.
O que está ocorrendo aos nossos olhos não pode ser banalizado. O caluniador é uma figura da barbárie, o sinistro que mobiliza o submundo dos preconceitos, dos ódios e dos fanatismos. A calúnia traz a violência para o centro da cena pública, pronunciando a morte pública de uma pessoa, sem direito à defesa. Perante a calúnia não há diálogo, direitos ou tribunais isentos. Na dúvida, contra o “réu”: a suspeição atirada sobre ele, visa torná-lo impotente pois já, de partida, a humanidade lhe foi negada.
Mas quem é o caluniador, essa figura de mil caras e rosto nenhum? É preciso dizer alto e bom som, em público, o seu nome, antes que seja tarde: o nome do caluniador é hoje a candidatura José Serra! Friso a candidatura porque não quero exatamente negar a humanidade de quem calunia. É o que fez, com a coragem que lhe é própria, a companheira Dilma Roussef no primeiro debate do segundo turno, apontando o nome de uma caluniadora – a mulher de Serra – e chamando o próprio de o “homem das mil caras”.
Dia a dia, de forma crescente e orquestrada, a calúnia foi indo ao centro de sua campanha, de sua mensagem, de sua fala, de sua identidade proclamada, de seus aliados midiáticos, de parceiros fanáticos (TFP) ou escabrosos (nazistas de Brasília), de sua estratégia eleitoral e de seu cálculo. “Homem do bem” contra a “candidata do mal”? Homem de uma “palavra só” contra a “mulher de duas caras”? Político “ficha limpa” contra a “candidata ficha suja”? Protetor dos fetos e dos ofendidos (como mostra a imagem na TV) contra aquela que “assassina criancinhas”, como disse publicamente sua mulher? Homem público contra a “mulher das sombras”?
O que está se passando mesmo aqui e agora na jovem democracia brasileira? Que arco é este que vai da TFP a Caetano Veloso, quem , quase em uníssomo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chamou o presidente Lula de analfabeto e ignorante já no início deste ano? Afinal, que cruzada é esta e qual a sua força ?
O que está ocorrendo aqui e agora é uma aliança dirigida por um liberal conservador com o fanático religioso e com o proto-fascista. Cada uma dessas figuras – que sustentam o lugar comum da calúnia – precisa ser entendida em sua própria identidade e voz. A democracia brasileira ainda é o lugar da razão, do sentimento e da dignidade do público: por isso, defender a candidatura Dilma Roussef é hoje assumir a causa que não pode ser perdida.
Liberalismo conservador: o criador e sua criatura – Nunca como agora em que esconde ou quase não mostra a imagem de Fernando Henrique Cardoso, Serra foi tão criatura de seu mestre intelectual. É dele que vem o discurso e a narrativa que, ao mesmo tempo, dá a senha e liga toda a cruzada da direita brasileira.
A noção de que o PT e seu governo ameaçam a liberdade dos brasileiros pois instrumentalizam o Estado, fazem reviver a “República sindical”, formam gangues de corrupção e ameaçam a liberdade de expressão não deixa de ser uma evocação da vertente lacerdista da velha UDN. Mas certamente não é uma doutrina local.
A cartilha do liberal-conservador Fernando Henrique Cardoso é um autor chamado Isaiah Berlin, autor de um famoso ensaio “Dois conceitos de liberdade” e do livro “A traição da liberdade. Seis inimigos da liberdade humana”. Neste ensaio e neste livro, define-se a liberdade como “liberdade negativa”, isto é aquele espaço que não é regulado pelas leis ou pelo Estado contraposto à noção de “liberdade positiva”. Quanto menos Estado, mais liberdade; quanto mais Estado, menos liberdade. Ao confundir liberdade com autonomia, ao vincular liberdade aos ideais de justiça ou de interesse comum, republicanos, sociais-democratas, liberais cívicos e, é claro, socialistas, trairiam a própria idéia de liberdade.
É por este conceito e seus desdobramentos que Fernando Henrique mobiliza o clamor midiático contra o PT e o governo Lula. É este conceito que estrutura também o discurso de Serra, que acusa o governo Lula de ser proto-totalitário. É evidente que o conceito não é passado de forma iluminista: a mídia brasileira tornou-se uma verdadeira artista na criação das mediações de opinião, imagem e notícia que se centralizam, em última instância, neste conceito. Daí ele dialoga com o senso comum.
Seja dito em favor de Fernando Henrique Cardoso: é o lado mais sombrio de seu liberalismo que vem à tona agora, na cena agônica, quando o candidato que representa a sua herança ameaça perder pela última vez. Pois este liberalismo sempre foi de viés cosmopolita, atento em seu diálogo com os democratas norte-americanos e aos “filósofos da Terceira Via”, a certos direitos inscritos na pauta, como aqueles da liberdade sexual, do direito ao aborto legal, dos gays, dos negros, da vida cultural. Mas agora para fazer a ponte com o fanatismo religioso, ele resolveu descer aos infernos: nada sobrou de progressista na candidatura Serra, das ameaças à Bolívia à moral sexual de Ratzinger?
O liberal conservador não é o fanático religioso nem o proto-fascista, aquele que julga que a melhor maneira de dissuadir o adversário é simplesmente eliminá-lo. Mas dialoga com eles na causa comum de derrotar os “proto-totalitários” de esquerda”. Como disse bem, Jean Fabien Spitz, autor de “ O conceito de liberdade”, os ensaios de Berlin trazem o sentido e a tonalidade da época da “guerra fria”.
O fanático religioso: os frutos de Ratzinger – Se a social-democracia, o republicanismo e o socialismo são os inimigos de Berlin, a Modernidade em um sentido amplo é o inimigo central do ex-cardeal Ratzinger. O programa político- teológico que veio construindo a ferro e fogo nestas últimas três décadas é centrado na idéia que é preciso restaurar a dogmática da fé contra os efeitos dissolutivos da moral emancipadora, da racionalização científica e da secularização. Este discurso político, que se fecha no fundamentalismo religioso, como bem denunciou Leonardo Boff, é, na verdade, um discurso de poder, de recentramento do poder do Vaticano.
Neste programa, não é apenas a esquerda enquanto topografia política que é o inimigo mas principalmente o processo de emancipação das mulheres. Entre a “Eva pecadora” e a “Maria mae de Deus” não há outra identidade possível às mulheres.
A dimensão fundamentalista desde discurso não reconhece o direito do pluralismo na política, nem mesmo na linha do “consenso sobreposto” proposto por John Rawls ( a possibilidade de convergências sobre direitos, partido de um pluralismo de fundamentos). Ou se concorda ou se é proscrito, ex-comungado ou desqualificado.
É essa idéia força, que veio ganhando terreno na hierarquia do clero brasileiro a partir das perseguições à Teologia da Libertação, que agora irrompe na política brasileira, difamando Dilma Roussef. A calúnia é conveniente ao fundamentalista religioso: nesta visão de mundo, não há luz e sombra, não há e não pode haver semi-tons: quando Serra proclamou que o “direito ao aborto no Brasil seria uma carnificina”, ele estava dando a senha para a campanha difamatória da direita católica e evangélica.
O proto-fascista e seus privilégios – Todo processo político e social de democratização e de inclusão tão amplo como o que está se vivendo no Brasil provoca reações de resistência e regressão política à sua volta. Mas este também não é um fenômeno apenas brasileiro: observa-se à volta de nós fenômenos e operações muito típicas daquelas que estão sendo promovidas pela direita republicana norte-americana contra Obama ou que percorrem quase todo o continente europeu em torno ao tema dos imigrantes.
O proto-fascista brasileira não veste camisa preta nem usa suástica no braço ( embora, é claro, ninguém duvide, redes simbolicamente ostensivas estão em ação), nem precisa ser sociologicamente configurado como “lumpen proletariado” ou “pequeno burguesia vacilante”, para lembrar as figuras de uma linguagem simplificadora. O proto-fascista brasileiro é aquele que não quer receber em sua casa comum – a democracia brasileira – estes que não que reconhecem mais o seu antigo lugar, os pobres e os negros.
Há uma violência inaudita no ato do jornal liberal “O Estado de São Paulo” em punir com a demissão Maria Rita Kehl, por escrever um artigo em prol da dignidade dos pobres. Esta violência, que está muito distante do proclamado pluralismo mesmo restrito de alguns liberais, cheira a proto-fascismo, este ato que pretende abolir as razões públicas dos pobres simplesmente negando dignidade a eles.
A força da liberdade que hoje mora no coração dos brasileiros, os braços abertos do Cristo Redentor e o que há de imaginação e magnífica pulsão de vida na cultura popular dos brasileiros são os verdadeiros antídotos contra as figuras do ódio do caluniador.Por detrás da sua máscara, o povo brasileiro há de reconhecer os centenários adversários de seus direitos.


Diante do caluniador, somos todos hoje Dilma Roussef!





Carta CapitalCuidado - ele morde!

Kehl: A campanha assumiu um tom fascistóide
publicada terça-feira, 19/10/2010 às 08:17 e atualizada terça-feira, 19/10/2010 às 12:23


A campanha eleitoral assumiu um tom fascistóide, diz Maria Rita Kehl
por Celso Marcondes, na Carta Capital


Em entrevista a CartaCapital, a psicanalista responsabiliza Serra pelo nível do debate eleitoral, fala de aborto e corrupção.


O fim da coluna da psicanalista Maria Rita Kehl no O Estado de S.Paulo foi um dos assuntos da semana, em particular na internet. Seu artigo “Dois Pesos” foi pesado demais para os donos do diário paulista. Neste espaço, publicamos vários artigos a respeito. A repercussão enorme gerou até um abaixo-assinado que corre pela rede em sua defesa. Passado o impacto, Rita Kehl conversou com CartaCapital a respeito das eleições presidenciais, que ela acompanha de perto, com o olhar da profissional conceituada em sua área e também com a visão de cidadã e jornalista, carreira que seguiu nos tempos da ditadura. Ela se diz escandalizada com os temas que tomaram conta do debate eleitoral e responsabilizou a campanha do PSDB por isso.


CartaCapital: Teu artigo no Estadão discutia a disseminação de um grave preconceito através da rede. Essa parece ter sido uma característica do uso do veículo nestas eleições, em particular entre a chamada classe média.Você acredita que a internet, pelas suas especificidades, ajuda a este tipo de comportamento?


Maria Rita Kehl: Ajuda de fato. A internet, pela facilidade de acesso, pelas características que só ela tem, apresenta este potencial terrível de ser lugar da fofoca, de blábláblá. Mesmo quando não é um uso irresponsável, como são os casos destes tuites para dizer ”olha, eu estou aqui”, “eu existo”, “olha a foto do meu filho”, “do aniversário do fulano”. Mas tem também um potencial incrível, como a possibilidade de convocar uma passeata da manhã para a tarde, como aconteceu antes da guerra do Iraque, em vários países do mundo, e reunir milhões de pessoas. Então, eu não condenaria a internet, ela tem grande potencial, é um veiculo que dá justamente a possibilidade de você se incluir, de você escrever, pelo menos para quem é da classe média ou que tem acesso a uma lan house. Ela serve a essas duas coisas. Talvez com o tempo os leitores comecem a criar sua própria capacidade de discriminar.

CC: O preconceito que você identifica no teu artigo, este incomodo com a ascensão dos mais pobres, e por consequência com um governo mais identificado com eles, não é uma marca das nossas elites que aparece muito na rede?


MRK: Veja, a internet divulgou essas correntes preconceituosas, apócrifas, que sempre começavam assim: “uma prima minha”, “um parente meu”, “um amigo da minha empregada”, sempre assim. Mas por outro lado, o que tem de legal, é que, por exemplo, este meu artigo foi mais lido que qualquer outra coisa que eu jamais tenha escrito. Se ele tivesse ficado apenas no Estadão, ele teria sido lido, mas jamais deste jeito. Isso é uma coisa muito legal.

CC: Falemos de ética: você acha que o caso Erenice atingiu eleitoralmente esta classe média?


MRK: Eu acho que sim. Eu li um artigo dizendo que o caso Erenice foi mais decisivo para exigir o segundo turno que essa “fofocaiada” toda sobre o aborto. E, infelizmente, está certo. O governo para o qual eu voto e continuo votando tem uma leniência com a questão da corrupção, que deixa até difícil um petista defender, tenho que dizer isso. Lula naturalizou a corrupção, como sendo parte do jogo político. E aí, está bom, quando fica mais escandaloso, demite. Mas “deixa acontecer”, entendeu? Renan Calheiros, Sarney, são vergonhas que a gente tem que engolir, fica parecendo que é culpa da oposição agitar isso. Claro que ela vai agitar. Nós agitaríamos isso se aparecesse uma coisa tão escandalosa na outra campanha. A diferença aí – que é a favor da atitude do governo Lula, mas que ao mesmo tempo não o torna vítima – é que o governo Lula não consegue blindar a imprensa como o governo do PSDB consegue, porque tem a imprensa na mão. Então, quando surge alguma coisa, surge como fofoca que desaparece no dia seguinte. Como a coisa do Paulo Preto, que o Serra não respondeu no debate e ficou por isso mesmo. A gente sabe que é um governo que blinda. O Alckmin, como a candidatura dele estava bem, teve a campanha toda em céu de brigadeiro, do começo ao fim, não tinha ninguém que pudesse pegar alguma coisa e contestar. E se pegasse, não ia sair na imprensa. De fato, a grande imprensa se encarrega de censurar quaisquer denúncias sobre os governos que ela apoia. Mas mesmo que a imprensa seja parcial ao denunciar um caso como o da Erenice, o caso em si está errado, não poderia aparecer.


CC: O governo não poderia ficar surpreso com a “escandalização” feita pela grande imprensa, certo?


MRK: Claro! Ele sabe qual é o jogo e não era para ter corrupção deste jeito. Uma coisa ou outra você não controla, uma coisa pequena, mas para mim é difícil responder quando as pessoas dizem: “mas, como? Estava no nariz dela! Era uma coisa que estava a família inteira metendo a mão”. Coloca os petistas numa situação difícil.


CC: Esta eleição está sendo marcada também pela discussão de temas no campo da moral: aborto, religião. O que te parece isso?


MRK: Eu acho que isso mostra o atraso da sociedade brasileira. Porque, claro, nenhum candidato vai ser eleito se estiver em descompasso com a maioria da sociedade. O Plínio foi um exemplo ótimo, de um cara que falava tudo o que tinha na cabeça, tudo o que ele pensa de verdade, de uma forma consistente, porque ele não tinha compromisso de se eleger. O que me espanta é o atraso da sociedade brasileira. E a ignorância aí é apoiada pelo Serra de misturar questões religiosas com questões políticas. Como é que as igrejas começam a pautar a lei agora? Uma coisa é eles decidirem o que é pecado e o que não é, outra coisa é eles decidirem o que é ilegal e o que não é.


CC: E isso acabou virando pauta de campanha presidencial, não é?


MRK: Vira pauta e vira motivo de constrangimento. A campanha do PSDB tem responsabilidades sim, de acirrar esta intolerância religiosa neste momento da campanha. A Dilma respondeu duas vezes no debate da Band que neste País não tem intolerância religiosa. Fica esta irresponsabilidade feia do PSDB estar acirrando isso, mas ao mesmo tempo a sociedade mostra neste ponto como é atrasada. Aparecem comentários de que a Dilma é a favor do aborto como se ela tivesse o poder de decidir, se ela apoia o aborto, vai ter aborto. Como se isso não tivesse que passar pelo Congresso. Além de tudo joga muito com a ignorância do povo.

CC: E os candidatos chegam a “endireitar”, fazer campanha nas igrejas e citarem Deus à exaustão. Não acha que isso tem um papel deseducador, em particular para crianças e adolescentes?


MRK: Isso é o pior. Por um lado, eu acho que o problema da corrupção não é da responsabilidade do PSDB, eles vão extrair o máximo de vantagens que puderem arrancar deste caso da Casa Civil. Por outro lado, é responsabilidade sim, do PSDB e da campanha Serra o tom fascistóide que estas coisas estão adquirindo. É horrível que os candidatos tenham que aparecer ajoelhados comungando, dizendo que são a favor da vida…claro que são a favor da vida, quem é que não é?Agora, é a Igreja que não é a favor da vida. Aí é uma opinião minha. A ONG Católicas pelo Direito de Decidir me convidou para debater e elas pensam assim: a criminalização do aborto é uma questão contra a liberdade sexual da mulher, ponto.Não pode usar camisinha, porque a Igreja também é contra. Então é uma questão de dizer: sexo só dentro do casamento e só para ter filho. É isso, que não está escrito assim, mas é o que está dito. Se não pode usar preservativo, não pode evitar filho, não pode nem evitar infecções, epidemias como o HIV que mata milhões na África, que “a favor da vida” é esse?

CC: O Dafolha divulgou uma pesquisa que diz que a posição contra o aborto na sociedade aumentou depois destas semanas de discussão na campanha, veja o efeito nocivo.


MRK: Claro, porque o que circula é uma desinformação, “coitadinha da criancinha”, “eu poderia ter sido abortado” e “porque eu não fui abortado eu estou aqui”, não é neste grau. E a Marina tem responsabilidade nisso. Mesmo que a Dilma ganhe, a sociedade retrocedeu muito e isso é responsabilidade da campanha. É terrível.


Compartilhe


Panfletos contra Dilma – encomendados por um bispo católico conservador – foram impressos numa gráfica que pertence a militante do PSDB. A informação foi publicada aqui no Escrevinhador, em primeira mão. Arlety Kobayashi é irmã de um dos coordenadores ds campanha de Serra, Serginho Kobayashi. O “Jornal da Record” deu os detalhes…






O “Coiso”, explicado para crianças!

publicada terça-feira, 19/10/2010 às 15:42 e atualizada terça-feira, 19/10/2010 às 15:04

Marco Aurélio Mello, do blog “Doladodelá”, não chega a ser um entusiasta da candidatura Dilma. Sei disso porque passo algumas tardes sentado na mesma bancada que ele, na redação do Jornal da Record.

Mas Serra foi tão longe nessa campanha de falso moralismo e hipocrisia, que parece ter ganhou um voto para Dilma no segundo turno. Ou seria um voto contra Serra?

Aurélio escreveu um texto simples e – ao mesmo tempo -cheio de significado, explicando ao filho de 13 anos o que representa a candidatura de Serra. Confiram…

CUIDADO, ELE MORDE
por Marco Aurélio Mello, no Doladodelá

Meu filho mais velho, Pedro, me perguntou ontem se eu tenho certeza que o Serra não faria um bom governo. Absoluta, respondi. Depois fiquei pensando, por quê? Resolvi listar pelo menos sete razões concretas para ter construído esta certeza.

1. Desde que foi para Brasília, onde ocupou cargos no Legislativo e, depois, no governo Fernando Henrique, Serra montou uma central de inteligênica clandestina, cuja finalidade era investigar, intimidar e chantagear seus adversários (usando para isso jornalistas inescrupulosos que conheço).

2. Quando se candidatou à presidência, em 2002, para tirar do caminho sua adversária Roseana Sarney, tramou contra ela e o marido uma operação com a ala tucana da Polícia Federal, para expor o caixa dois da pré-campanha da adversária (como se caixa dois fosse privilégio apenas de opositores).

3. Tentou derrubar com ilações seus principais companheiros de partido: Geraldo Alckmin e Aécio Neves, um em 2006, e outro em 2009 – sobre Alckmin, expôs suas ligações com a Opus Dei (que hoje apoia Serra ferrenhamente) e, sobre Aécio, insinuações de que o agora senador seria dependente de cocaína e tinha predileção por agredir mulheres.

4. Sempre calou a imprensa paulista com dinheiro, na forma de anúncios, assinaturas e negócios nebulosos. Todos os jornalistas que se impuseram em seu caminho foram massacrados. Ele próprio, Serra, tem o péssimo hábito de telefonar para as redações para “conversar” diretamente com os diretores de jornalismo. Já testemunhei uma dessas conversas. Para ficar em apenas dois exemplos, na TV Cultura: Luis Nassif e Heródoto Barbeiro foram afastados, depois que fizeram críticas a seu governo.

5. Recentemente, deu à TV Globo um terreno (que era do povo paulista) numa das áreas mais valorizadas da capital, em troca de um projeto - no mínimo esquisito - de formação de mão de obra para a televisão. Um escândalo que só não foi investigado porque o Ministério Público Estadual está nas mãos do PSDB há 16 anos!

6. Como Governador, nos últimos anos, determinou que sua Polícia Militar sempre reprimisse manifestações, seja de policiais civis em greve, de estudantes da USP e, até, de professores, o que expôs toda sua truculência em governar, em detrimento do diálogo e da conciliação.

7. Agora, em 2010, o candiato e seus apoiadores têm promovido uma das campanhas eleitorais mais sujas da história do país. Serra posa de estadista, enquanto um grupo de profissionais (colegas jornalistas entre eles) espalha calúnia e difamação em e-mails apócrifos, panfletos e nas redes sociais – como o twitter. Há uma coleção de pessoas já identificadas com seus número de computadores, que serão objeto de análise pelo Ministério Público e a Justiça Eleitoral.

Costumo brincar com o Pedro que, se Serra fosse eleito, eu e meus colegas perderíamos o emprego. Não duvidaria disso!

Compartilhe

2 Comentários
2 Comentários para “O “Coiso”, explicado para crianças!”

1. Luis Armidoro disse:

19 de outubro de 2010 às 15:35

Caros Marco e amigos do blog:

á mais razões:
8 – Quando “governador” do estado de SP, além de intensificar a privatização do SUS para as Organizações $ociai$, tomou uma grana do Governo Federal (que deveria ter sido aplicada no SUS) e aplicou a grana no mercado financeiro.

9 – Disse que valorizaria o professor mas criou um plano de cargos e salários que exclui 90% da categoria de qualquer aumento ou beneficio (usando as táticas dos generais romanos: divida paar conquistar)

10 – Investiria no transporte público de massas, mas; a exemplo de seus antecessores tucanos, construiu 500 metros de metrô por ano.

11 – Provocou um inicio de Guerra Civil em SP, ao instigar a PM contra a Policia Civil.

12 – Tentou extinguir a autonomia das Universidades Estaduais Paulistas, enfiando-as debaixo de uma Secretaria Especial

13 – Continuou com sua política de desmonte do serviço público ao impôr (já que estava fora do governo) reduções nos programas produzidos pela TV Cultura

Realmente, um tipo inesquecível



Responder
POLÍTICA E ECONOMIA

Na favela sorridente de Serra não tem bala perdida Não tem bala perdida, nem população acuada, nem meninos com metralhadoras penduradas no ombro e camiseta escondendo o rosto – nada disso aparece na inacreditável favela-cenário montada para o programa de estréia do tucano José Serra, na tv. Uma favela-modelo, que fica num estúdio da zona Oeste de São Paulo, só com gente contente, batucando um sambinha, pendurando no varal a camiseta com o número 45, e prometendo votar no candidato, que está lá, cercado de crianças negras agitando, esfuziantes, uma bandeira do Brasil. O artificialismo da cena foi chocante para quem avançou um milímetro além da infeliz peça de propaganda, comandada pelo diretor de arte Osmar Murada, com produção de André Burza. É o horário eleitoral transformado num misto de espetáculo de teatro com escola de samba. Uma homenagem a Joãozinho Trinta, será? Na geléia geral brasileira vale tudo – até o que não é necessário. A imagem pública de Serra, um acadêmico, intelectual, que avançou léguas para além de sua propalada origem modesta, dificilmente será modificada e transformada na de um homem popular, pelo condão da mágica publicitária. O eleitor costuma distinguir bem entre espetáculo e realidade. A realidade de Serra é seguramente melhor e menos artificial que o espetáculo.Christina LemosR7 Jornal Nacional e sua luta incansável para eleger Serra Ontem no "Jornal Nacional", "Na série sobre as preocupações dos cidadãos: Por que a saúde é a maior de todas?". Na longa reportagem, "o governo relata avanços, mas 41% dos cidadãos escolheram a área como a que mais preocupa diz a repóter" Quanta "coincidência!" No programa eleitoral do candidato tucano, também na noite de ontem, o tema foi único foi....a saúde!. Fico com o "Economist" O jornal Inglês, "Economist" também viu a propaganda do Serra, e escreveu: "Mas a inadequação de Serra no palco eleitoral se mostrou incontornável. No dizer da "Economist", antecipando-se à sua "apresentação", "ele aparenta ser insípido, exceto quando sorri, quando parece assustador"...Parece que só a Globo acha o Serra lindo. Serra se muda para a extrema-direita e chama o Lula de “despreparado” Publicado em 27/07/2010 Compartilhe Imprima Vote (+23) Na foto, o debate em que o “preparado” ganhou do “despreparado” por 39% a 61% Antes de começar a campanha, Serra está 8 pontos atrás da Dilma. É o “zero a zero” da Eliane Catanhêde, autora de vídeo memorável, o da “massa cheirosa”. Daqui para a frente, Serra vai fazer e dizer qualquer coisa. É o que o Ciro sempre disse: Serra numa campanha é garantia de baixaria. Serra voltou a dizer num encontro de executivos de grandes empresas – Folha (*), pág. A4 – que o MST vai botar fogo neste país, no Governo Dilma. Num primeiro momento, a reação deste ordinário blogueiro foi invocar a Lei de Segurança Nacional: Serra anuncia a subversão no campo e incita os empresários a pegar em armas para defender a propriedade. Subversão na veia. Mas, ao pensar bem, este ordinário blogueiro chegou à conclusão de que o que o Serra diz não tem a mínima consequência. Nem eleitoral, nem política. É aplicação de um placebo para agradar a extrema-direita e colar na testa da Dilma a pecha de “radical”. Ele está sem grana e sem idéias (esta, nunca as teve). E se encaminha para o precipício. Só lhe resta a estratégia o desespero – o que inclui o “metodo” do datafalha (Clique aqui para ler “Vão abrir a caixa preta do Datafalha – vai voar tucano para todo lado”) Como observa o amigo navegante Paulo, a guinada à extrema direita prossegue, agora, rumo ao Noroeste: à Venezuela: Paulo, tudo bem?! Depois de dizer que o Evo Morales incentiva o tráfico de drogas, agora o Serra ataca o presidente da Venezuela…. pena que a Folha (*) escondeu no oitavo parágrafo de uma matéria: “O candidato do PSDB voltou a dizer que o PT tem relações com as Farc, mas dessa vez utilizou um raciocínio diferente. ‘Todo mundo sabe que existe uma simpatia pelo [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela]. Ele abriga as Farc.’ “ Quem será o próximo? os presidentes do Uruguai e Paraguai?? essa é a política dele para o Mercosul Serra diz que MST fará mais invasões com Dilma na Presidência CATIA SEABRA DE SÃO PAULO O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira que uma eventual vitória de sua adversária petista, Dilma Rousseff, fará com que as invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se intensifiquem. Em encontro promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo, Serra destacou que Dilma conta com o apoio do líder do MST, João Pedro Stédile, nas eleições. “O Stédile declarou apoio a Dilma. Com ela, [os sem-terra] vão poder fazer mais invasões, mais agitações”, afirmou. “O MST não existe para a reforma agrária”, reiterou. POLÍTICA EXTERNA O tucano ainda criticou a política externa brasileira. Segundo ele, as ações do Brasil no setor durante o governo Lula se basearam exclusivamente em interesses econômicos. “Tivemos uma política de ‘negócios são negócios’”, disse ele em encontro promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) –a frase “negócios são negócios” foi proferida recentemente pelo ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Guiné Equatorial. Serra criticou as relações do Brasil com países sul-americanos e com a China. “Estamos fazendo filantropia com Paraguai e Bolívia. Com a China, só fizemos concessões”, afirmou. O presidenciável tucano também criticou as relações do governo brasileiro com Cuba. “É amigo de Cuba? Tudo bem. Mas então use isso para soltar os presos políticos.” Segundo ele, o PT, por ser um partido homogêneo, usa a política externa para agradar a setores do partido. O candidato do PSDB voltou a dizer que o PT tem relações com as Farc, mas dessa vez utilizou um raciocínio diferente. “Todo mundo sabe que existe uma simpatia pelo [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela]. Ele abriga as Farc.” E insinuou que falta preparo aos comandantes da política econômica: “O Brasil perdeu a chance de crescer na crise e investir mais. Talvez por falta de conhecimento.” (**) Paulo Henrique Amorim (*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores. (**) Esse é um velho preconceito dos conservadores brasileiros (e, no caso, dos que foram para a extrema-direita): supor que os trabalhistas são ignorantes, “despreparados”, que são massacrados nos “debates”. O Farol de Alexandria formulou isso de forma mais sofisticada. Disse que o Lula deu certo, porque se comunica bem. Ou seja, é um idiota que não fala francês: fala a linguagem do povo. Clique aqui para ler “O preconceito que se esconde por trás do Lula se comunica bem”. DECLARAÇÃO DE VOTO Frei Betto . DECLARAÇÃO DE VOTO Frei Betto Voto este ano, para presidente da República, no candidato decidido a implementar reformas estruturais tão prometidas e jamais efetivadas: agrária, tributária, política, judiciária. E que a previdenciária e a trabalhista não sejam um engodo para penalizar ainda mais os trabalhadores e aposentados e beneficiar grandes empresas. Voto em quem se dispõe a revolucionar a saúde e a educação. É uma vergonha o sucateamento do SUS e do ensino público. De 190 milhões de brasileiros, apenas 30 milhões se agarram esperançosamente na boia de salvação dos planos privados de saúde. Os demais são tratados como cidadãos de segunda classe, abnegados penitentes de filas hospitalares, obrigados a adquirir remédios onerados por uma carga tributária de 39% em média. Segundo o MEC, há 4,1 milhões de brasileiros, entre 4 e 17 anos de idade, fora da escola. Portanto, virtualmente dentro do crime. Nossos professores são mal remunerados, a inclusão digital dos alunos é um penoso caminho a ser percorrido, o turno curricular de 4 horas diárias é o verniz que encobre a nação de semianalfabetos. Voto no candidato disposto ao controle rigoroso de emissão de gás carbônico das indústrias, dos pastos e das áreas de preservação ambiental, como a Amazônia. Não se pode permitir que o agronegócio derrube a floresta, contamine os rios e utilize mão de obra desprotegida da legislação trabalhista ou em regime de escravidão. Voto em quem se comprometer a superar o caráter compensatório do Bolsa Família e resgatar o emancipatório do Fome Zero, abrindo a porta de saída para as famílias que sobrevivem à custa do governo, de modo que possam gerar a própria renda. Voto no candidato disposto a mudar a atual política econômica que, em 2008, canalizou R$ 282 bilhões para amortizar dívidas interna e externa e apenas R$ 44,5 bilhões para a saúde. Em termos percentuais, foram 30% do orçamento destinados ao mercado financeiro e apenas 5% para a saúde, 3% à educação, 12% a toda a área social. Voto no candidato contrário à autonomia do Banco Central, pois a economia não é uma instância divorciada da política e do social. Voto pela redução dos juros, a desoneração da cesta básica e dos medicamentos, o aumento real do salário mínimo, a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas. Voto na legalização e preservação das áreas indígenas, de quilombolas e ribeirinhos, no diálogo permanente com os movimentos sociais e repúdio a qualquer tentativa de criminalizá-los, nas iniciativas de economia solidária e comércio justo, na definição constitucional do limite máximo de propriedade rural. Voto no candidato convicto de que urge reduzir as tarifas de energia destinada ao consumo familiar e de uso de telefonia móvel. Disposto a valorizar fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica, a dos mares e lixões etc. E que seja contrário à construção de termoelétricas e hidrelétricas nocivas ao meio ambiente. Voto no candidato que priorize o transporte coletivo de qualidade, com preços acessíveis subsidiados; exija a identificação visível dos alimentos transgênicos oferecidos ao consumidor; impeça a participação e uso de crianças em peças publicitárias; e condene veementemente o trabalho infantil. Voto no candidato decidido a instalar a Comissão da Verdade, de modo a abrir os arquivos das Forças Armadas concernentes ao período ditatorial e apurar os crimes cometidos em nome do Estado, bem como o paradeiro dos desaparecidos. Voto em quem dê continuidade à atual política externa, de fortalecimento da soberania e independência do Brasil, diversificação de suas relações comerciais, apoio a todas as formas de integração latino-americana e caribenha sem a presença dos EUA; direito de o nosso país ter assento no Conselho de Segurança da ONU; de repúdio ao criminoso bloqueio dos EUA a Cuba e à instalação de bases militares estadunidenses na América Latina. Voto, sobretudo, em quem apresentar um programa convincente de redução significativa da maior chaga do Brasil: a desigualdade social. Este o meu voto. Resta achar o candidato. Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org julho 13, 2009 por petitionsemanifestos Rio de Janeiro, 30 de junho de 2009 A questão da habitação e a regulação dos pobres no Rio de Janeiro: “Choque de ordem” ou “choque de cidadania”? Adesões: enviar para beppo1977@gmail.com A luta dos trabalhadores pobres por moradia digna está chegando a um momento crucial. Este momento é crucial também para os setores dos governos Municipal, Estadual e Federal ligados à esquerda, em geral, e ao PT, em particular. Urge perguntar: a “esquerda de governo” tem políticas públicas para os trabalhadores pobres da metrópole ou pensa apenas nos interesses das grandes empresas? Há dezenas de ocupações no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Os ocupantes são conjuntos de famílias de trabalhadores informais (muitas de camelôs) que conseguem auferir uma renda trabalhando no Centro da cidade – onde colocam seus filhos para estudar – e não têm nenhuma proteção social. Diante dessa situação inadmissível e, apesar de tudo o que se fala sobre formalização, proteção aos informais e recuperação da dimensão urbana do Centro da Cidade, as diferentes instâncias de governo (Município, Estado e União) se mostram completamente indigentes: não há nenhuma política pública que reconheça, em geral, o direito constitucional à moradia e, em particular, o direito à moradia dos trabalhadores pobres do Centro da cidade. Se existem alguns bons propósitos, como o projeto de recuperação de alguns prédios públicos para habitação, estes estão longe de acompanhar o ritmo das lutas e das ocupações. O poder aparece diante dos pobres como um aparelho de proteção dos interesses da propriedade privada, inclusive quando ela é pública na realidade, como no caso de prédios abandonados às baratas por grandes administrações estatais. Pior, as decisões da Justiça só são acatadas e executadas pelos governos com lisura (e truculência!) quando são favoráveis aos proprietários. Quando, inversamente, são favoráveis aos movimentos dos pobres, elas são esvaziadas pela burocracia de sempre: enquanto a decisão da Justiça que obriga o Estado e a Prefeitura a pagar um aluguel social aos moradores despejados de uma ocupação precisa de 3 meses para ser acatada (e, ainda assim, apenas parcialmente), a decisão de despejo dos moradores do prédio do INSS da Av. Mem de Sá nº 134 foi executada em apenas três dias (no dia 26 de junho de 2009). Esse episódio recente – violento e sem nenhuma mediação por parte dos chamados “poderes públicos” – é extremamente emblemático! As 30 famílias que ocupavam o prédio despejado – dentre as quais havia 35 crianças (tendo uma nascido na rua há pouco mais de uma semana) – foram desabrigadas de outra ocupação por causa de um incêndio. Neste caso, a Justiça interditou o prédio, mas determinou também que o Município auxiliasse os sem-teto na mudança dos pertences. No entanto, a Prefeitura mandou um caminhão de lixo da COMLURB para fazer a mudança! Assim, os sem-teto se recusaram a usar o caminhão de lixo e só saíram quando foi enviado um caminhão fechado pertencente à Defesa Civil. Restam dois fatos políticos gravíssimos: - os pobres são tratados como lixo ! - não há política voltada para eles ! Resultado: os acampados da Av. Gomes Freire continuaram com seu movimento e mostraram sua capacidade de luta ocupando um prédio (abandonado) do INSS na Av. Mem de Sá. A pauta política imposta pela grande mídia conservadora sobre o “choque de ordem” se traduz politicamente na própria falta de políticas! Quais são as políticas da Secretaria de Assistência Social do Estado, da Secretaria Municipal de Habitação e do Ministério da Previdência ? O caso é particularmente grave: o governo municipal nos mostra uma visão incrivelmente pobre da questão da cidade, da moradia e dos pobres! Os avanços anunciados em termos de regularização fundiária e urbanística nas favelas não podem ficar separados de uma articulação com uma política integrada da cidade que reconheça concretamente o direito à moradia dos trabalhadores pobres do Centro da Cidade. Tudo o que se oferece é o programa federal “Minha Casa, Minha Vida” ou então, o abrigo. Ora, naturalmente, as famílias de trabalhadores que hoje estão na rua não podem esperar a execução (demorada) do programa federal de habitação e o abrigo não é moradia: ele implica em um sistema de restrições infindáveis e o esvaziamento do caráter imediato da luta por moradia. Escandalosamente, a Secretaria Municipal de Habitação não propõe nada e dá a entender que o movimento das ocupações não é bem vindo nem bem quisto; quase como se fosse um lobby em busca de alguma benesse ou privilégio. O movimento não é lobby, mas a base da construção da democracia e da cidadania! Os trabalhadores pobres do Centro do Rio de Janeiro precisam de proteção social: é preciso RESOLVER JÁ A QUESTÃO DA MORADIA E NEGOCIAR COM AS OCUPAÇÕES: dito isto, é preciso implementar imediatamente um programa de titulação jurídica, de assistência técnica gratuita e de adequação dos prédios para fins de moradia. É um escândalo que ainda não se tenha implementado um projeto de regularização da documentação da grande multidão de ocupantes (sem certidões e documentos!) que permitam seu cadastramento no programa Bolsa Família. A informalidade não é mais a sobra residual de uma taxa de crescimento econômico insuficiente. Ao contrário, o próprio crescimento gera e multiplica a precariedade do emprego. A informalidade mistura assim as mazelas do subdesenvolvimento com aquelas da modernização e as novas formas de precariedade do trabalho, sobretudo em âmbito metropolitano. Não por acaso, entre os ocupantes e os manifestantes que participam do movimento dos sem-teto há estudantes universitários: não se trata de solidariedade ideológica, mas de uma nova composição do trabalho que nossos secretários e ministros poderiam começar a enxergar, se não quiserem abrir o caminho àquele declínio da esquerda cujas modalidades e resultados podemos facilmente observar em vários países europeus. Diante disso, o “combate à informalidade” apresenta-se aberto a uma grande alternativa: - por um lado, aquele pautado pela elite, faz do “choque de ordem” uma linha repressiva permanente, sem fim: a repressão aos pobres se torna uma política que preenche o vazio da própria ausência de política, quer dizer, de governos que não tem projeto nenhum que não seja aquele de … governar! - por outro, aquele pautado por uma política progressista de mobilização democrática que reconhece a dimensão produtiva dos direitos, a começar pela moradia! Oferecer aos trabalhadores pobres uma moradia digna, acessível e próxima do local de trabalho é um passo essencial na construção de uma rede de proteção social adequada a esse novo tipo de trabalho e na reconstrução da política democrática, do trabalho da democracia e dos direitos. Como podem os responsáveis pelos cargos de governo que dependem da mobilização dos pobres ignorar os movimentos? Como pode o Ministro da Previdência ignorar os pedidos de socorro daqueles que não tem previdência nenhuma ? É preciso perguntar se as diferentes instâncias de governo só pensam em entregar mais dinheiro para as grandes empresas através da multiplicação das renúncias fiscais ou se sabem – ao contrário – tirar a lição da re-eleição de Lula em 2006? Pois são as políticas sociais que pavimentam o caminho de um outro modelo de desenvolvimento e de sua base de legitimação social! Precisamos, mais que nunca, de um choque de cidadania no Rio de Janeiro – a começar pelo reconhecimento das justas lutas dos trabalhadores informais sem-teto do Centro da cidade! Do Correio Caros Amigos: Alguns recados do Irã: a paz invadiu o meu coração Por Beto Almeida Após o anúncio do acordo construído entre Brasil, Irã e Turquia para evitar que a nação persa sofra novas sanções ou que tenha que renunciar ao seu direito de desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos, já se nota em certos segmentos políticos e midiáticos brasileiros uma tentativa de desmerecer a importância da iniciativa do presidente Lula que conseguiu apoio também da Rússia e da China. Por isso mesmo vale colocar em realce - como já tem feito a imprensa internacional - os desdobramentos políticos que o Acordo Nuclear Brasil-Irã-Turquia poderá promover. A viagem de Lula à Teerã foi cercada de imenso ceticismo, silencioso ou declarado, como o da Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton que disse que o presidente brasileiro iria ter que enfrentar uma montanha de problemas, desacreditando do êxito de sua empreitada. É como se não soubesse que Lula, desde que nasceu, enfrentou os mais montanhosos e espinhosos problemas que seres humanos pobres, nascidos no Nordeste, foram obrigados a enfrentar, a começar por vencer a pena de morte a céu aberto que executava crianças nordestinas pela fome dia-a-dia, fenômeno político denunciado com franqueza e precisão por outro nordestino mundialmente respeitado, Josué de Castro. Na mesma linha, o chanceler francês - que não acredita que o fim da tarde é lilás - chegou a afirmar de modo deselegante e desrespeitoso, que Lula seria embromado pelos iranianos, sendo obrigado a corrigir-se e a desculpar-se por orientação do presidente Sarkozy, este talvez mais pragmático e interessado na bilionária venda dos aviões Rafale para o Brasil. O acordo é uma lição para muita gente. Não seria petulante afirmar que o episódio constitui grande recado para o presidente dos EUA, Barack Obama. Afinal, não deveria ser dele, Prêmio Nobel da Paz, a iniciativa principal de promover o diálogo, insistir em saídas pacíficas, apostar em soluções cooperativas, ao invés de falar precipitadamente na lógica das sanções que, obviamente, são muito interessantes para as encomendas da indústria bélica? Talvez por ser prisioneiro do Complexo-Militar-Industrial, denunciado por um ex-presidente dos EUA, Obama ainda não demonstrou claramente estar o Prêmio nas mãos mais adequadas.... O acordo firmado entre Lula, Ahmadinejad e o chanceler turco Ebergan manda recados também para o Conselho de Segurança da ONU, que, antes mesmo de explorar as possibilidades de uma saída pelo diálogo e que não implicasse no veto aos países que - como o Irã e o Brasil, entre outros - estão desenvolvendo tecnologias nucleares para finalidades pacíficas, deu péssimo exemplo de intolerância e prepotência ao mundo. O Conselho só tem falado em sanções, em ameaças, sem sequer referir-se ao fato que a via das sanções aplicadas por ele até hoje tem resultado, fundamentalmente, em castigos militares de gigantescos sofrimentos, perdas de vidas, destruição e rigorosamente nenhuma solução, como se observa no Afeganistão e no Iraque. Embora o impacto internacional positivo seja inegável, o acordo traz ingredientes novos para o debate político brasileiro já que o candidato oposicionista, José Serra, manifestou-se de maneira negativa à viagem de Lula ao Irã, afirmando que nem iria lá, nem convidaria o presidente iraniano a vir ao Brasil. Se o objetivo é buscar soluções negociadas, por meio de conversações complexas e delicadas, como podem Obama, o chanceler francês, o Conselho da ONU e José Serra não privilegiarem o diálogo direto com a parte envolvida, o Irã, para se alcançar a paz? Sintonia entre tucanos e falcões.... Para a mídia sobram muitas lições, sobretudo para grande parte da mídia brasileira que, desde o anúncio da viagem de mandatário brasileiro à antiga Pérsia encontrou inúmeras qualificações negativas e pessimistas para a iniciativa, algumas de escassa qualificação, como aquelas que davam a entender que o “Lula não se enxerga”, ou que “isto é apenas uma bravata”. Ou, então, que seria pretensioso acreditar que o Brasil poderia ter alguma importância na solução de um problema de tão grande porte e tão distante. Uma por uma estas conceituações midiáticas, provavelmente eivadas de uma certa dose de preconceito, foram, pouco a pouco, desmanchando-se no ar. Agora, até mesmo os mais pessimistas admitem que o acordo reveste-se de importância altamente relevante e que é uma vitória de Lula e da política externa brasileira independente e soberana. O mundo inteiro está discutindo o gesto brasileiro e rejeitá-lo será altamente desgastante para eles, sobretudo para o Prêmio Nobel da Paz. O curioso é que esta mesma mídia reconhece e destaca o protagonismo de outro brasileiro, Oswaldo Aranha, quando das gestões feitas para a criação de Israel, há décadas. Mas, agora, quando Lula insiste em ter voz ativa, convocando ou até mesmo desafiando as grandes potências a empenharem-se na via pacífica seja para o Irã, para o Iraque, como também, por desdobramento, para a Questão Palestina, nenhum reconhecimento. O difícil mesmo é acreditar que tanto o Prêmio Nobel da Paz, como os demais dirigentes dos países ricos, tenham coragem em apostar em caminhos que contrariem a indústria bélica. Coragem, que Lula, em sua dialética de retirante, tem demonstrado ter de sobra. Beto Almeida é jornalista e membro da Junta Diretiva da Telesur Por que Washington rejeita a paz Por Antonio Martins (http://www.outraspalavras.net/?p=1233) O desfecho da disputa que Estados Unidos e Irã travam, em torno da energia nuclear, tornou-se imprevisível, após uma série de reviravoltas diplomáticas. Tão logo Brasil e Turquia anunciaram, em 16 de maio, um acordo que cria espaço para entendimento, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, saiu a campo para bombardear a iniciativa. Na manhã desta terça-feira (18/5), ela anunciou, no Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, ter costurado com Rússia e China um rascunho de resolução contra Teerã, a ser submetido ao Conselho de Segurança da ONU. Apesar de ter aprovação aparente dos cinco membros-permanentes do conselho, a aprovação desta proposta é incerta. Tanto a articulação brasileiro-turca quanto a resposta-relâmpago do governo Obama são fatos novos e surpreendentes, que ajudam a revelar traços da conjuntura global que se abre na virada da década. 1. Revelado no final da noite de segunda-feira, o texto anunciado por Hillary é, como afirmou a própria secretária, particularmente “duro”. As sanções previstas transformam o Irã, na prática, num Estado-pária. Fica proibido de construir instalações de enriquecimento de urânio (algo que o Tratado de Não-Proliferação Nuclear – TNP – considera um direito de qualquer país). É interditado de atividades banais (como a mineração de urânio). As nações são impedidas de vender-lhe oito tipos de armamentos convencionais (os mesmos oferecidos a todos os seus vizinhos), e mesmo de fornecer assistência técnica e treinamento militares. Estabelecem-se, além disso, constrangimentos humilhantes. Barcos com destino ao Irã podem ser inspecionados em alto-mar. Fundos iranianos no exterior tornam-se passíveis de bloqueio, bastando para isso que algum Estado ofereça “bases razoáveis para acreditar” que o negócio “poderia contribuir” para que Teerã livre-se das sanções. A proposta de Hillary obriga os EUA a renegar posições já assumidas, afronta possíveis aliados e tende a ampliar a oposição e o ressentimento contra Washington, em especial no mundo árabe. Os compromissos que que Brasil e Turquia convenceram o Irã a assumir são, em essência, idênticos ao que os EUA exigiam de Teerã, em outubro último. Brasília e Ancara apostaram que, na condição de países do Sul, não-hostis ao Irã, teriam maiores chances de obter um compromisso. Esta tentativa foi comunicada previamente à Casa Branca – que a encorajou, em palavras. Ao renegar esta atitude, Washington sugere que não desejava, no ano passado, um entendimento: fazia apenas uma provocação. Ainda mais porque as novas ameaças contrastam com o prolongado apoio norte-americano a Israel – que mantém e desenvolve armas nucleares e se recusa a assinar o TNP. Na manhã de quarta-feira (19/5), surgiram, aliás, os primeiros sinais de que a tramitação do texto, no Conselho de Segurança, poderá ser lenta, complexa e desgastante para os EUA. Embora admitisse que seu país participou da redação do esboço de Hillary, o embaixador chinês na ONU, Li Badong, fez ressalvas. “Fazer circular este rascunho não significa que as portas para a diplomacia estão fechadas (…) Acreditamos que o diálogo, a diplomacia e as negociações são a melhor maneira de lidar com a questão iraniana”. Brasil e Turquia mantiveram-se firmes, anunciando que enviarão ao Conselho de Segurança um relato de suas gestões, que julgam suficientes para colocar o debate em novo tom. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou que, após os sinais de boa-vontade emitidos por Teerã “não há nenhum motivo para manter uma linha de pressões e sanções”. Na própria sociedade norte-americana, não parece haver unanimidade em favor da postura de ameaças e confrontos. Na manhã de quarta-feira (19/5), uma ampla maioria dos leitores do New York Times pronunciava-se de forma francamente crítica a nova cartada da Casa Branca. O jornal elogiou Hillary Clinton em editorial. Mas na página de comentários aberta aos internautas, todas as dez opiniões mais pontuadas estavam contra as sanções. Um comentário emblemático perguntava: “Por que será que estou me tornando mais inclinado a acreditar em propostas feitas por países como a Turquia e o Brasil que nas manifestações de China, Rússia e Estados Unidos”? Nove votos, entre os quinze países que compõem o Conselho de Segurança, são necessários para aprovar sanções. Há enormes probabilidades de que Brasil, Turquia e Líbano rejeitem a resolução articulada pelos EUA. Ainda que os cinco membros permanentes confirmem adesão à proposta de Hillary, será preciso cabalar mais quatro apoios, entre os sete integrantes que faltam (Áustria, Bósnia, Gabão, Japão, México, Nigéria e Uganda). O sucesso é duvidoso. A maior parte dos que se atrevem a fazer previsões imaginam que as negociações deverão se estender até julho. 2. Por que, então, a sofisticada Hillary Clinton agiu tão brusca e rudemente? Dois textos publicados em Outras Palavras ajudam a encontrar respostas. Em A política de desarmamento de Obama, que foi ao ar no final de abril, o economista José Luís Fiori aponta como o presidente “mudou de foco”, depois de enfrentar o primeiro ano de crise econômica profunda, resistências no Congresso, movimentos sociais ultra-conservadores e queda de popularidade. Ao menos no momento, tais pressões conduziram o homem do Yes, we can, à condição de um aplicador do business as usual (“o mesmo de sempre”). As esperanças de um poder norte-americano benévolo, que ele espalhou pelo mundo em sua campanha eleitoral, reduziram-se a retórica. Diante da crise – e talvez da falta de mobilização, em seu país, para políticas progressistas – o presidente passou a reconhecer, nas palavras de Fiori, que “o poder militar é indispensável à reconstrução da economia dos EUA”; que estes “não abdicarão do poder global que já conquistaram”, nem “de sua expansão futura”. Em O plano militar do Pentágono, o jornalista Jack A. Smith parte de análise semelhante, e investiga em especial seus desdobramentos militares. Smith disseca dois documentos oficiais sobre estratégia publicados já no mandato de Obama. Trata-se do Relatório Quadrienal da Revisão de Política de Defesa (Quadriennial Defense Review Report, QDR, de fevereiro de 2010) e a a Revisão da Política Nuclear (Nuclear Posture Review, NPR, de abril de 2010). O novo governo, mostra o estudo, não se limitou a aprovar, um orçamento militar que é superior ao de todos os demais países do mundo somados, e supera inclusive o recorde de George W. Bush (741 bilhões de dólares no ano fiscal de 2011, contra US$ 651 bi em 2009). Ele formulou um leque de objetivos que acentuará, se alcançado, o aspecto militar da supremacia mundial norte-americana. O apoio na força bélica está explícito no QDR. O relatório proclama que “os interesses dos EUA e seu papel no mundo exigem forças armadas com capacidades superiores a tudo o que se conhece”. Defende “o domínio continuado das forças armadas norte-americanas, nas guerras de larga escala de exército contra exército”. Traduz tais propósitos num vasto elenco de metas militares: “Expandir as capacidades de ataque a longa distância; explorar as vantagens das operações subterrâneas; garantir acesso ao espaço e ao uso de recursos espaciais; aumentar a robustez de capacidades-chave de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento; derrotar sistemas inimigos de sensores; aumentar a presença e a prontidão de resposta das forças dos EUA, em todo o mundo”. 3. Em suma, a virada de Obama equivale a aceitar como projeto, conforme sumariza Fiori, “o congelamento da atual hierarquia do poder militar mundial”. Diante de tal propósito, e das armas e orçamentos mobilizados para alcançá-lo, a iniciativa pacifista e distensionadora de Brasil e Turquia só poderia ser encarada pelos EUA como… um disparate inaceitável. Que restará da estratégia de supremacia mundial com base nas armas, se puder ser desarmada, à primeira crise, por dois países de poder bélico menor, sem assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e detentores de PIBs que, somados, não chegam a 1/5 do norte-americano? Significa, então, que apesar de suas boas intenções, a cartada de Brasília e Ancara foi imprudente e irrealista? As próximas semanas serão muito reveladoras, mas muitos fatores indicam que a respostas é não. Primeiro, porque continua cada vez mais atual a frase atribuída a Bonaparte: é possível fazer qualquer coisa com baionetas, exceto sentar-se sobre elas. Qualquer poder que se apoia nas armas emite um sinal de fraqueza. País mais endividado do planeta, candidato a perder em poucas décadas a liderança econômica, os Estados Unidos parecem imitar, com a estratégia de poder que praticam, a trajetória de declínio descrita pela Inglaterra, a partir do final do século 19. Segundo, porque a simples ousadia brasileiro-turca, a intensa repercussão que encontrou e as possibilidades reais de que tenha sucesso no Conselho de Segurança são sinais de outro fenômeno destacado da atualidade. Trata-se da ascensão dos países antes vistos como periféricos e seu desejo de uma ordem mundial multipolar. Em certo sentido, esta emergência recupera aspirações do “movimento dos não-alinhados” — que tateou em busca de espaço, a partir da segunda metade dos anos 1950, num cenário monopolizado por Estados Unidos e União Soviética. Agora, talvez as possibilidades sejam maiores. Uma atitude como a de Lula e Erdogan seria provavelmente irrelevante nos tempos da Guerra Fria; e estaria no campo do bizarro depois, durante o breve período em que os EUA dominaram sozinho a cena internacional. Vale notar, aqui, a posição dúbia da China, que oscila entre sentir-se parte dos periféricos (é força destacada nos BRICs) e a tentação de compor, com Washington, um novo e poderoso G-2. O terceiro fator não se relaciona com oportunidades geopolíticas, mas com projetos de sociedade. Num tempo também caracterizado pela emergência da sociedade civil planetária, da economia do conhecimento e das redes sociais, é possível aceitar que os destinos do planeta sejam decididos por uma potência armada até os dentes? Se a resposta for não, Brasil e Turquia ajudaram a tornar o presente respirável e abriram janelas para o futuro. Talvez haja mais que coincidência em Lula, o protagonista mais empenhado no projeto, ser o presidente do país onde surgiram os Fóruns Sociais Mundiais. Aqueles que sustentam a ideia, também irreverente, de que “outro mundo é possível”… O problema dos ex 08/07/2010 17:35:07 (Carta Capital) Marcos Coimbra Poderíamos aprender com os americanos a lidar com os que ocuparam a Presidência da República. Lá eles não incomodam Um dos problemas brasileiros (certamente não o maior) são nossos ex-presidentes. Vira e mexe, um deles causa algum embaraço. Fala o que não deve, se comporta de maneira inconveniente, dá maus exemplos. Poderíamos aprender com os americanos a lidar com eles. Lá, faz tempo que não incomodam. Os contribuintes pagam para que não sejam forçados a lutar pela sobrevivência, lhes dão um gordo estipêndio e provêm a todos de amplas condições para que se dediquem a fazer nada. Ficam à frente de suas fundações, disponíveis para missões humanitárias, participações esporádicas no debate público e, se tiverem aptidão, enriquecer no circuito internacional de palestras e consultorias. Os que terminam bem seus mandatos, como Bill Clinton, continuam a merecer o carinho de todos. Os que não, somem (como o último Bush). Por aqui, quanta diferença! José Sarney zelava pela liturgia do cargo até no corte de seus jaquetões. Se tivesse o mesmo cuidado com verbas públicas e nomeações depois que saiu do Planalto, ninguém reclamaria dele. Fernando Collor era tão jovem e ficou tão pouco tempo no cargo que era natural que quisesse disputar outras eleições. O que não precisava é que fossem tantas, desde projetos bizarros como a prefeitura de São Paulo, ao de agora, de mais uma tentativa de voltar ao governo de Alagoas. Nessa vontade de permanecer a todo custo na vida política, Itamar Franco se parece com ele. Já foi governador de Minas Gerais e, neste ano, pretende ser senador outra vez, mesmo sabendo que o tempo passa para todos. Ainda bem que os presidentes-ditadores tiveram a boa educação de morrer. Dá para imaginar o que seria se tivessem a longevidade de um Oscar Niemeyer? Contando todos, inclusive os três da Junta Militar, até seis poderiam estar vivos, dois (Geisel e Figueiredo) provavelmente. Quantas conspirações e articulações não estariam fazendo! E Fernando Henrique? O mais recente e mais ilustre? Faz tempo, mas FHC já foi considerado o mais importante cientista social do País. Todos gostavam dele, alguns com a exuberância de Glauber Rocha, que o chamava de “príncipe da sociologia brasileira”. E não era só no Brasil que tinha renome. Era respeitado internacionalmente, autor de livros que marcaram mais de uma geração. De quem esperar uma atuação notável como ex-presidente senão daquele que mais se distinguira antes de assumir o cargo? Com sua biografia, era natural esperar que estabelecesse o padrão para seus sucessores. Depois dele, todos saberiam o que era ser um ex-presidente da República. Semana passada, Fernando Henrique publicou mais um artigo, como tem feito com frequência nos últimos meses. É sua maneira de intervir no debate sucessório, pois a campanha Serra vê com preocupação qualquer movimento seu de maior aproximação. Ela já tem problemas de sobra com a administração da imagem negativa do ex-presidente e não quer que o candidato seja ainda mais identificado com ele. No texto, intitulado “Eleição sem maquiagem”, FHC rea-liza uma proeza de malabarismo intelectual: consegue ser, ao mesmo tempo, um sociólogo que abdicou da sociologia e um ex-presidente que não governou. Chega a ser fascinante ver como descreve os graves riscos que confrontam hoje o Brasil, aos quais o governo Lula estaria respondendo com uma atitude de otimismo irresponsável: “Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz”. Para ele, “a encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que ela diga, especialmente o que o mercado e os parceiros internacionais querem ouvir”. O comentário é misógino, pois ele nunca se referiria a questões de aparência se o PT tivesse um homem como candidato (por mais vaidoso e preocupado com a aparência que fosse) e não uma mulher. Seu tom choca quem conheceu o Fernando Henrique soció-logo, sempre progressista. Mas o mais extraordinário é ver como apagou da memória o que foi seu governo e as duas eleições presidenciais que ganhou. Será que esqueceu de como aconteceu sua primeira vitória, uma avalanche provocada pelo Real- lançado 90 dias antes, naquela que foi a eleição onde fatores não políticos mais interferiram no resultado? Será que não lembra como foi a reeleição, escorada em um câmbio artificialmente mantido pelos “parceiros internacionais”, que estourou três meses depois da apuração dos votos? É ótimo que proponha eleições sem maquiagem. Mas é impossível levá-lo a sério, enquanto não estiver disposto a enfrentar suas verdades. Como ele mesmo diz: assumir a responsabilidade pelo que fez e deixou de fazer, mais do que falar 14/07/2010 - 13:06 “Relatório Aldo Rebelo” altera tendência da legislação ambiental no Brasil Jornal da Câmara dos Deputados A aprovação do ‘relatório Aldo Rebelo” pode reverter uma tendência histórica de liderança jurídica mundial do Brasil quanto a questões ambientais. Ainda no período imperial teve início o processo de edificação das leis florestais brasileiras, quando em 1605 foi editada norma que instituía condições para o corte do pau-brasil, árvore nobre da mata atlântica e primeira a adquirir grande valor comercial, seguida do mogno e outras. Desde então o país vem avançando na legislação, apesar dos muitos desrespeitos e complacências dos sucessivos governos. Hoje, o substitutivo do Código Florestal aprovado reduz a proteção e anistia infrações penais ambientais. Em pleno século XXI e diante da evidência trágica do aquecimento global e sucessivos desastres ambientais, a Comissão Especial do Código Florestal propõe que a legislação ambiental brasileira sofra fragilizações contundentes nos mecanismos de proteção florestal, ao ambiente e a sociedade, revogando e reformando dispositivos centrais para áreas florestais nativas de preservação permanente, reservas legais e bacias hidrográficas. Os conflitos relativos a apropriação dos recursos da natureza são o centro das polêmicas em relação ao Código Florestal. O ambiente natural pode servir para o benefício coletivo e gerações futuras ou ser utilizado exclusivamente a serviço de determinada lógica de produção de mercadoria e valor. A preponderância da visão do setor ruralista no substitutivo aprovado na comissão demonstra esse desequilíbrio. O Brasil sempre apresentou tendência de avançar na proteção ambiental, em consonância com os cenários e dinâmicas científicas modernas de conhecimento do homem sobre os fenômenos climáticos e esgotamento dos recursos. A realidade inconteste do aquecimento global foi ignorada pelo substitutivo aprovado e a tendência brasileira de aumentar a proteção ao meio ambiente diante de novas descobertas científicas, escalas riscos e impactos ambientais foi alterada, visto que, o substitutivo propõe diminuir a proteção a florestas e águas em diversos aspectos. A clara redução da proteção ambiental proposta pelo substitutivo no Código Florestal caracteriza uma reversão da tradição jurídica ambiental do país. Isso fica explícito na redução de 30 para 15 metros nas faixas de APP nas margens das bacias hidrográficas, na retirada da proteção aos topos de morro (mesmo com tantas tragédias ocasionadas por deslizamentos de terra), no fracionamento do poder de gestão ambiental ao descentralizar para estados e municípios e ZEE’s locais, fim da proteção especial das regiões de várzea e outras medidas temerárias. O Congresso Nacional e o Brasil devem entender a dimensão da complexidade ambiental da pós-modernidade e avançar na proteção ao ambiente e aos recursos da natureza. A condição de maior país mega-diverso do Planeta Terra e a Amazônia aumentam a responsabilidade e o desafio. As bancadas do PSOL na Câmara dos Deputados e no Senado Federal se posicionam contrárias a qualquer modificação no Código Florestal pautada pelas proposições aprovadas na Comissão Especial. Estamos ao lado dos pequenos produtores rurais, das populações tradicionais, indígenas, extrativistas e de todos que querem um Brasil soberano, desenvolvido e preservado. Bancada do PSOL na Câmara dos Deputados: Dep. Ivan Valente (PSOL/SP); Dep. Luciana Genro (PSOL/RS); Dep. Chico Alencar (PSOL/RJ) 24/06/2010 - 13:41 O Estatuto e a tentativa de negação do racismo no Brasil Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, Após uma década de tramitação no Congresso Nacional, o projeto de lei (PLS 213/03), do senador Paulo Paim, que tem o objetivo de combater a discriminação e resguardar os direitos étnico-raciais da população negra, foi aprovado na última semana no Senado. Parcela significativa do movimento negro, no entanto, não comemorou a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. A razão é tão simples quanto lamentável: a versão aprovada, proposta pelo senador Demóstenes Torres, vai contra tudo o que estava como premissa básica no cerne original da proposta. Tanto que, antes de sua aprovação, dezenas de organizações encaminharam uma mensagem aberta aos senadores propondo a retirada do projeto da pauta. Onde está um dos principais problemas do texto? No não reconhecimento do racismo como advindo de um processo de escravização e violação da liberdade de vários povos africanos. Portanto, no não reconhecimento da dívida histórica do país com sua população negra. Por isso, a versão aprovada, fruto de uma negociação entre setores que compõem a base governista com o DEM, não permite sequer que medidas compensatórias e/ou afirmativas sejam implementadas para reparar todas as desigualdades oriundas do racismo brasileiro. Se há pontos positivos no texto, como o ensino da história e cultura áfrica e da população negra no Brasil em todas as esferas de ensino público ou privado (já garantido pela Lei 10.639/2003); a multa e interdição de sites racistas; a criação de uma ouvidoria pública para o recebimento de denúncias; o livre exercício religioso de matriz áfrica e a liberação de assistência religiosa aos seguidores em hospitais, por outro lado ficaram de fora do Estatuto todos os tipos de cotas: para escolas, para trabalho, em publicidade e em partidos políticos. Para aqueles que são contrários às cotas raciais nas universidades, o acesso ao ensino superior deve se fazer com base no princípio da meritocracia, ignorando a brutal desigualdade presente na vida escolar de um estudante negro e negando que haja mérito nos processos de seleção dos programas de ação afirmativa – que já comprovaram, em inúmeras pesquisas, que os alunos cotistas atingem desempenho equivalente ou superior aos demais alunos, quando superado o gargalo do vestibular. Na área da saúde, uma das perdas mais significativas. O texto aprovado teve suprimida a obrigatoriedade do registro da cor das pessoas nos formulários de atendimento e notificação do Sistema Único de Saúde e a necessidade de pactuação entre União, Estados e Municípios para a descentralização de políticas e ações em saúde da população negra. Em 2006, no entanto, o Conselho Nacional de Saúde já havia aprovado por unanimidade a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que foi pactuada pelos entes federados na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), segundo preceitos legais para a gestão de políticas no campo da saúde. Ao retirar do Estatuto mecanismos centrais desta política, os senadores ignoraram indicadores importantes. Hoje, no Brasil, a taxa de mortalidade materna de mulheres negras é seis vezes maior do que a de brancas. Segundo Jurema Werneck, Coordenadora da Comissão Intersetorial de Saúde da População Negra do Conselho Nacional de Saúde, com base em dados do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2006, o número de homicídios da população negra aumentou de 24.763 vítimas de para 29.583. Enquanto isso, a freqüência de mortes de pessoas brancas pela mesma causa caiu de 18.712 para 15.578 no mesmo período. Ou seja, os homens negros, especialmente os jovens, são 2,2 vezes mais vítimas de homicídios do que os brancos. Para as mulheres negras, a taxa é 1,7 vezes maior do que para as brancas. Tudo isso acompanhado de maiores taxas de mortalidade infantil para crianças negras, cuja diferença em relação às brancas também aumenta. Na questão quilombola, há um reconhecimento da cultura e a previsão de criação de linhas de crédito específicas, mas o essencial, a titulação das terras, não foi garantido. Ou seja, ao longo da tramitação, o texto foi desconfigurado, esvaziado e destituído substancialmente de seu potencial transformador, numa tentativa conservadora, que avança em nosso país com a contribuição dos meios de comunicação de massa, de acabar com o debate público sobre a existência do racismo no Brasil e, assim, manter a desigualdade histórica, muitas vezes transformada em privilégio, dentro de nossa sociedade. Foi isso o que ouvimos, por exemplo, na cobertura midiática sobre as cotas nas universidades e sobre o próprio Estatuto. Propagaram para a opinião pública a idéia de que a nova lei terminaria por “racializar” a sociedade brasileira, como se a idéia de raça, da superioridade branca e inferioridade negra não tivesse fundado o Brasil desde a colônia. Portanto, senhor Presidente, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial desta forma, como se deu no Senado, apesar de trazer avanços pontuais, em seu conjunto significou uma derrota para a população negra. Reafirmamos então nosso compromisso com a luta do movimento negro pelas ações afirmativas e por políticas públicas que combatam o racismo estrutural e institucional que marca nossa sociedade. Sem isso, seguiremos uma nação dividida pela cor da pele e marcada, para sempre, pela desigualdade. Muito obrigado. Ivan Valente Deputado Federal PSOL/SP 09/07/2010 Como se gesta uma catástrofe ecológica Reston, no Estado de Virginia, periferia de Washington DC, está a milhares de quilômetros do Golfo do México, de suas costas cheias de óleo e do desastre ecológico. No entanto, foi lá que tudo começou, onde estão os escritórios da corporação International Resgistries (IRI).” Quem conta é Khadua Sherife, jornalista, em artigo reproduzido na edição brasileira do Le Monde Diplomatique – uma das melhores, se não a melhor publicação escrita brasileira – deste mês. A empresa propõe a seus clientes – segue relatando ele – contornar a regulamentação marítima e instalar suas plataformas em um país com leis mais frouxas: a República das Ilhas Marshall, um arquipélago de 62 mil habitantes no meio do Oceano Índico. A British Petroleum é uma de suas clientes. As Ilhas Marshall têm o maior índice de registros marítimos do mundo, com 221 plataformas de petróleo – 4 vezes mais do que os registros concedidos nos EUA, o país com as maiores empresas petroleiras. Como o Panamá e a Libéria, as Ilhas Marshall também propõem uma “jurisdição do sigilo”, funcionando como formas de paraísos fiscais e centros financeiros não continentais. Não é necessário sequer estar lá para obter essa forma de permissividade e criar uma empresa. Sherife, fingindo ser um possível cliente, entrou em contato por internet com a IRI, apenas alguns dias da explosão do Golfo do México e recebeu como resposta que a criação de uma empresa registrada na Olha não tardaria mais do que um dia, com um custo total de USS 650 mil, mais 450 de renovação anual. Disseram que o status da nova empresa não seria publicado, podendo desfrutar da ausência completa de impostos e níveis de confidencialidade comercial inigualáveis. Informa-se que a nova empresa deseja instalar uma plataforma do tamanho daquela da BP e a IRI propõe um parcelamento em cotas de 15 mil dólares, acrescidos de 15 centavos por barril e uma redução de 50% para uma frota de 10 ou mais plataformas com menos de 15 anos. A BP valeu-se amplamente desses privilégios das Ilhas Marshall. Encabeçando 294 filiais registradas em países que garantem sigilo, aumentou sua produção, alugando a plataforma Deepwater Horizon. No dia 20 de abril deste ano a instalação da plataforma estava quase concluída, à exceção de um poço que ainda necessitava ser perfurado. Diante do curso diário da plataforma, os gerentes da BP decidiram ignorar os procedimentos de segurança. Embora estivessem conscientes dos problemas que o sistema de antiexplosão apresentava, buscaram um único objetivo: perfurar a qualquer custo. Como uma das conseqüências disso 11 operários morreram, milhares de pessoas foram direta e indiretamente afetadas e o ecosistema de Nova Orleans pode levar centenas de anos para se restabelecer. Mas o diretor da BP, Tony Hayward, afirmou: “O impacto ambiental desse desastre será, provavelmente, bastante modesto”. Assim se gestou a maior catástrofe ambiental contemporânea. Postado por Emir Sader às 04:15 03/07/2010 Por uma maioria parlamentar de esquerda Para quem quer que o Brasil siga o caminho atual, consolide as transformações iniciadas pelo governo Lula, as aprofunde e promova as transformações estruturais que permitirão fazer do Brasil uma sociedade, justa, soberana, solidária – é condição indispensável a vitória de Dilma Rousseff. O segundo objetivo, estreitamente vinculado a esse, condição mesma do seu sucesso, é eleger uma bancada parlamentar, na Câmara e no Senado, com maioria de esquerda. Para não necessitar de alianças que comprometam o projeto essencial do governo, para não depender de negociações difíceis e muitas vezes infrutíferas com partidos aliados, mas que não comungam das diretrizes essenciais do governo. Para não ter que entregar Ministérios fundamentais – como os da Agricultura, da Comunicação, da Defesa, das Cidades – a partidos cujas orientações muitas vezes defendem interesses que estão em contradição com políticas essenciais de superação do neoliberalismo. A aliança com o PMDB se dá não por uma opção preferencial por alianças com esse ou outro partido fora do campo popular. Tanto assim que o governo começou sem ter incorporado ao PMDB, o que levou a que quase fosse derrubado, em 2005, por não ter maioria no Congresso. E ainda teve que entregar cargos estratégicos a esse partido e a outros similares do ponto de vista ideológico, para dispor dessa maioria parlamentar indispensável para governar. As alianças foram necessárias por falta de maioria do campo popular no Congresso – objetivo pelo qual temos que lutar duramente nestas eleições. Um governo democrático, popular, nacional, soberano, com capacidade para implementar definitivamente um modelo econômico centrado no capital produtivo, inerentemente vinculado à distribuição de renda, à universalização de direitos e à expansão continua do mercado interno de consumo popular, que consolide nossa soberania externa, em torno das alianças prioritárias com os países latinoamericanos e com os do Sul do mundo – requer uma força própria, que não dependa de maioria conjunturais ou de alianças que demandam em troca concessões em temas essenciais para a plataforma da campanha da Dilma. Por isso temos que centrar esforços especiais em eleger uma maioria parlamentar – na Câmara e no Senado – dos partidos de esquerda: do PT, do PSB, do Pc do B, do PDT, e de todas as forças que se identificam com o programa da candidatura da Dilma. Precisamos estende a ampla maioria social progressista, que apoio o governo Lula e a candidatura da Dilma, em força política e eleitoral, para criar uma maioria parlamentar progressista. É talvez muito cedo para que a imensa massa beneficiária dos programas sociais do governo já tenha conseguido eleger seus próprios representantes – um tema central para que sejam não apenas sujeitos econômicos e sociais, mas também políticos, o que mudará definitivamente o Brasil, a ser uma democracia social e política. É preciso mobilizar a todos os militantes de esquerda também para as campanhas parlamentares – para o Senado e para a Câmara -, para fazer chegar essa mensagem aos setores populares, majoritários e decisivos nos destinos do Brasil. Postado por Emir Sader às 05:05 02/07/2010 Quem acredita ainda na FSP (Força Serra Presidente)? O jornal que emprestou seus caros para a Operação Bandeirantes, disfarçada de jornalistas, levar a cabo prisões arbitrárias, fuzilamentos sumários de detidos, conduzir os sobreviventes para tortura, para a desaparição, para a morte. O jornal que considerou a ditadura militar – o mais ditatorial dos regimes, de imposição do terror, o mais antidemocrático – como a salvação do país, pregou sua realização, saudou a ruptura da democracia e a deposição de um presidente legitimamente eleito pelos cidadãos, apoio a ditadura, ajudou a escondeu seus crimes e, mais recentemente, chamou-o de “ditabranda”. O jornal que publicou uma ficha falsa da Dilma em manchete de primeira página de um domingo. Pego em flagrante, nunca corrigiu sua brutal manipulação. Uma executiva do jornal declarou que, dada a fraqueza dos partidos da oposição, a imprensa assume o papel de partido da oposição. Isto é, o jornaleco virou boletim de um partido opositor, os jornalistas não são mais jornalistas, todos eles militantes desse partido opositor. A direção, que nunca foi eleita por ninguém, mas designada pela família, o Comitê Central desse partido. O seu diretor, escolhido por seu pai para sucedê-lo na direção da empresa familiar, presidente do partido. Suas pesquisas são pesquisas internas dos tucanos, feitas por encomenda e atendendo às penúrias do candidato-colunista do jornal, que passeia pela redação do jornal como pela sua casa, dá broncas no que não gosta, nomeia empregados, como a chefe da sucursal de Brasília, nomeada por ele, porque tucana e porque casada com publicitário – ex funcionário da Globo – que codirige a campanha derrotada em 2002 e agora em 2010. Quem acredita nas pesquisas do Databranda? Quem compraria um jornal usado da família Frias? Que lê o Diario Oficial dos Tucanos, com todos os editorais cheios de pluma tucana da página 2? O povo não é tonto. Com tudo o que eles dizem, apenas 3% aceitam seus argumentos e rejeitam Lula. Ou será 0%, na margem de erro? A derrota de Serra e seu vice de ocasião é também a derrota da imprensa das oligarquias familiares, da imprensa mercantil, da imprensa mentirosa e manipuladora, a derrota dos Frias, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Civitas e dos seus associados regionais e internacionais. Daí seu desespero, daí sua depressão, daí mentiras como essa pesquisa encomendada pelos tucanos e em que nem eles mesmos acreditam. Otávio Frias Filho (que ocupa o cargo por ser filho de Otávio Frias pai), seus parentes e militantes do seu partido, não conseguem mais ditabrandar em nome do país. Prêmio Corvo do semestre para Otávio Frias Filho e sua trupe! Postado por Emir Sader às 03:21 Internacional 11/07/2010 Copyleft Envie para um amigo Versão para Impressão BP: Operação Bota ainda em marcha Não é possível contar toda a história de canalhices da British Petroleum em poucas páginas, nem as conseqüências de seus negócios na geopolítica, na balança da guerra e da paz, na economia, no meio ambiente e no mundo em geral, envolvendo desde a política do Oriente Médio até pessoas sem posses, às vezes assassinadas em comunidades remotas. Este artigo oferece apenas um vislumbre da enormidade de crimes cometidos por essa empresa. A BP não representa nenhuma exceção entre as empresas petroleiras nem entre as grandes corporações. Sua história, além do vazamento de petróleo no Golfo do México, constitui um exemplo de enorme poder e impunidade. O artigo é de Julie Wark, do SinPermiso. O primeiro golpe de estado da British Petroleum, na ocasião chamada Anglo-Iranian Oil Company, foi executado com a ajuda da CIA em 1953. Cinqüenta e sete anos mais tarde, seus golpes de estado consistem em usurpar, comprar ou driblar as funções do Estado. Hoje o Mineral Management Service (Serviço de Administração de Minerais), do Departamento do Interior dos Estados Unidos parece estar sob seu mando. Apenas onze dias antes da catástrofe do Golfo do México, a BP conseguiu para esta operação a “exclusão categórica” do estudo de impacto ambiental da National Environment Policy (Política Nacional Ambiental) (1). Com sede em Londres e escritório central nos EUA localizado em Houston, a BP é a maior corporação do Reino Unido e uma das maiores do mundo. Os negócios da primeira empresa a explorar petróleo no Oriente Médio remontam a 1901 e a um “bon vivant” londrino, William Knox D’Arcy, que negociou direitos de exploração com Mozzafar al-Din Xá Qajar, da Pérsia (Irã). O negócio passou por vários nomes: Anglo-Persian Oil Company (1908), Anglo-Iranian OilCompany (1935), British Petroleum (1954), BP Amoco (1998) e, em 2000, BP. Em 1913, o governo britânico adquiriu a participação majoritária, mas com a campanha privatista de Margaret Thatcher, a totalidade de seus ativos foi vendida entre 1979 e 1987. O delírio de riqueza do “bon vivant” de Londres transformou-se em pesadelo para milhões de pessoas em todo o mundo, começando pelo Irã. Nas cláusulas contratuais da primeira exploração, além das condições de trabalho dos operários iranianos roçando a escravidão, descartou-se desde o início a soberania do país. Em agosto de 1941, a Grã Bretanha e a União Soviética ocuparam o Irã e rapidamente forçaram o repressor Xá Reza a abdicar em nome de seu filho Mohammed Reza Pahlevi, inaugurando assim um novo regime de repressão, corrupção, brutalidade e luxo extremo. Em 1951, o Majlis (parlamento) votou unanimemente pela nacionalização e, pouco depois, tomou posse no cargo de primeiro ministro o respeitado estadista Mohammed Mossadegh. A reação dos ingleses foi draconiana e, hoje em dia, fartamente familiar: bloqueio militar, fim da exportação de bens vitais, congelamento de contas bancárias na Inglaterra, e articulações nas Nações Unidas para aprovar resoluções contra o Irã. Mossadegh buscava uma solução negociada, mas os ingleses já tinham optado pela força e, em 1952, alegando o perigo do comunismo no debilitado Estado, obtiveram o respaldo do presidente Eisenhower. Em 1953, com políticos, militares, criminosos, prostitutas e jornalistas bem comprados, e informada pela embaixada britânica e seus espiões, a CIA conseguiu executar seu primeiro golpe de Estado, pro meio do qual reinstalou no poder o Xá Reza Pahlevi. A tirania do Xá preparou o terreno para a revolução islâmica de 1979. Com o endurecimento do regime do Irã formou-se uma rede global anti-ocidental cada vê mais dependente das táticas do terror. O que os ingleses batizaram como Operation Boot (Operação Bota) e os estadunidenses “Operation Ajax” “(...)ensinou aos tiranos e aos déspotas que os governos mais poderosos do mundo estavam dispostos a tolerar a opressão sem limites sempre e quando os regimes opressivos tratassem bem o Ocidente e suas empresas petroleiras. Isso ajudou a mudar o equilíbrio político contra a liberdade e a favor da ditadura” (2). Há poucos lugares no mundo a salvo da espoliação da BP. Na Colômbia, a empresa é acusada de beneficiar-se do regime de terror dos paramilitares que protegiam os 730 quilômetros do oledoduto Ocensa, e foi obrigada a pagar uma indenização multimilionária a um grupo de camponeses. O oleoduto causou desmatamento, deslizamento de terras, contaminação do solo e diminuição do lençol freático. Colheitas foram perdidas, criações de peixes foram arruinadas e muito gado morreu. Em 1992, a BP firmou um contrato com a empresa inglesa Defence Systems Ltda (DSL) que estabeleceu a Defence Systems Colômbia (DSC) (3) para suas operações colombianas. Três anos mais tarde, a BP firmou acordos com o Ministério da Defesa da Colômbia segundo os quais a BP pagaria ao governo US$ 2,2 milhões que seriam utilizados em sua maior parte para a Brigada XVI do exército proteger as instalações da BP. A Brigada introduziu na zona de Casanare a guerra suja ou, como diz o povo, a tática de deixar o peixe fora d’água. A DSC ensinava estratégias militares e de contrainsurgência à polícia encarregada de proteger o perímetro das instalações. A população aterrorizada a considerava com razão mais uma força militar na zona. Além disso, um empregado da DSC revelou a jornalistas ingleses que havia trabalhado para coordenar uma rede de espiões nos povoados da zona do oleoduto para controlar os líderes sindicais e comunitários. O departamento de Segurança da empresa Ocensa pagava delatores e compartilhava informações com o Ministério da Defesa e com a brigada local do exército (4). Em resumo, a BP criou uma zona de exceção na Colômbia. Na Ásia Central, a BP é um membro destacado do consórcio Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) que controla o oleoduto que passa pelo Azerbaijão, Geórgia e Turquia, o qual, fortemente financiado pelo Banco Mundial e por outras agências estatais, foi inaugurado em junho de 2005. Demandas judiciais contra o governo da Turquia relativas a abusos de direitos humanos foram apresentadas no Tribunal de Justiça da União Européia e no Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Não obstante, o governo turco concedeu a BTC poderes sobre o corredor do oleodouto que anulam as leis de direitos humanos, ambientais e sociais, e despojam os povos da região de seus direitos civis. BTC tem acesso limitado à água e está isento de responsabilidade no caso de um derramamento de petróleo. O oleoduto requer um corredor militarizado que põe em perigo o frágil acordo de trégua de hostilidades entre Turquia e grupos curdos. Mesmo antes de ser concluído, o oleoduto BTC já influía na geopolítica petroleira. Ele é de enorme importância estratégica na Transcaucasiana e, graças a BTC, os EUA e outros poderes ocidentais podem intervir muito mais nos assuntos da região. Nem os Estados Unidos estão imunes. Os dados do inventário de emissões tóxicas da Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental) identificam a BP como a empresa mais contaminadora do país. Em 1999, uma filial, a BP Exploration Alaska, teve que pagar US$ 22 milhões por danos provocados pelo vazamento de resíduos tóxicos em Endicott Island. Em agosto de 2006, foi obrigada a fechar as instalações da Bahia Prudhoe em conseqüência de um derramamento de petróleo e diesel. Na Califórnia, a BP é um dos patrocinadores mais generosos de uma iniciativa legislativa para eliminar a lei de Unfair Business Competition (Lei de Competição Desleal) usada por grupos ambientalistas para processar empresas petroleiras pela contaminação de água potável por éter-metil-tert-butílico (MTBE). No Canadá, a BP extrai petróleo de areias de alcatrão, um processo que consume enormes quantidades de água e produz quatro vezes mais emissões de dióxido de carbono do que a perfuração convencional. O povo indígena Cree denuncia que a empresa está destruindo o velhíssimo bosque boreal, degradando o território com suas minas a céu aberto, contaminando tanto a água como a cadeia alimentar e pondo em perigo a fauna silvestre e sua forma de vida (5). Os tentáculos da BP se estendem também no ensino superior. Em fevereiro de 2007, em meio a uma forte oposição de professores e alunos, a administração da Universidade da Califórnia, em Berkeley (UCB), anunciou um convênio entre a UCB e a BP, pelo qual a empresa financiaria com US$ 500 milhões durante dez anos o Instituto de Biociências da Energia, dedicado à investigação de biocombustíveis e biologia sintética. Com essa demonstração de poder em uma universidade pública, com esta vontade de privatizar o trabalho intelectual e de comercializar os resultados da investigação, a BP faz com que “(...) os trabalhadores dos países desenvolvidos mais influentes subvencionem a exploração de mais bens ecológicos do mundo em vias de desenvolvimento para servir às elites, aqueles que não se importam em tirar a comida da boca do povo para encher seus bolsos de ouro. Socializar os gastos para benefício privado não é nada novo no sistema capitalista. Não obstante, esse caso dá outra volta no parafuso com a combinação de ciência desacreditada, imperialismo ecológico e o sofisma do desenvolvimento sustentável” (6). Com este golpe, a BP consegue o controle de cientistas universitários, de alunos e de laboratórios além de dotar seus projetos supostamente sustentáveis de um verniz acadêmico. A BP tem um negócio de bilhões de dólares com o governo dos EUA na forma de contratos de defesa anuais e como fornecedor principal de combustível ao maior consumidor mundial de gás e petróleo: o Pentágono. Segundo o Center for Responsive Politics, a BP ocupa o centésimo lugar entre os doadores mais importantes das campanhas políticas: mais de US$ 5 milhões desde 1990 repartidos entre republicanos e democratas, com os percentuais de 72% e 28%, respectivamente. O Centro aponta o presidente Obama como o destinatário que mais se beneficiou durante os últimos 20 anos das doações do comitê de “ação política” da BP ($77.051) (7). A BP, seus comitês de “ação política” e seus empregados contribuíram com mais de US$ 3,5 milhões aos candidatos federais durante os últimos cinco anos, fora o dinheiro destinado ao lobby. Em 2009, liberou US$ 15,9 milhões em seus esforços por influir na política energética nacional (8). Desta maneira, com uma gestão bem azeitada, consegue-se a “exclusão categórica” da política ambiental. Evidentemente, a BP não trabalha sozinha. Um rápido olhar sobre algumas de suas conexões corporativas e governamentais é educativo, para não dizer alucinante. O presidente do Goldman Sachs Internacional, Peter Sutherland – que, com oito outros gerentes do Goldman Sachs, recebeu mais de US$ 12 milhões em honorários em 2009 – (9) e presidente da BP até que muito astutamente demitiu-se em dezembro de 2009, tem um currículo fascinante na página da Comissão Trilateral (10): “(...) É também presidente do Goldman Sachs International (1995 – até agora). Nomeou-se presidente da London School of Economics em 2008. Atualmente é representante especial da ONU para a Migração e o Desenvolvimento. Anteriormente era diretor-geral fundador da Organização Mundial do Comércio (OMC) e diretor-geral do Acordo Geral Sobre Comércio e Tarifas (GATT) desde julho de 1993, além de desempenhar um papel decisivo nos acordos da Rodada Uruguai, do GATT. É membro do comitê diretor do grupo Bilderberg e também assessor financeiro do Vaticano”. Igualmente astuta foi sua empresa Goldman Sachs quando vendeu 44% de suas ações da BP no primeiro trimestre de 2010, embolsando cerca de US$ 266 milhões e economizando US$ 96 milhões a preços atuais (11). As cifras apontadas pelo Center for Responsive Politics demonstram que o comitê de “ação política” do Goldman Sachs e empregados individuais doaram US$ 994.795 durante 2007 e 2008 para a campanha de Obama. Outro homem da BP com agudo senso de oportunidade é o chefe executivo Tony Hayward – anteriormente membro da junta consultiva do Citibank – que vendeu ações da BP avaliadas em US$ 2.130.000, um terço de sua participação, somente algumas semanas antes do desastre do Golfo do México (12). Já os aproximadamente 18 milhões de acionistas ingleses não foram tão bem informados, especialmente muitos pensionistas, já que os fundos de aposentadoria britânicos dependem de lucros na Bolsa que pagam 1 libra de cada 7 que recebem anualmente. A queda livre do preço das ações de “rentabilidade segura” da BP até mais de 50% de seu valor em abril e o fato de que a empresa terá que pagar cerca de US$ 13,5 bilhões para um fundo de compensação significam que o pagamento de dividendos ficará suspenso até, no mínimo, 2011. Demandada juntamente com a BP na maioria das 150 ações judiciais provocadas pelo desastre do Golfo do México, está a Halliburton Energy Services, a empresa contratada para a parte técnica da operação, encarregada da injeção de cimento no subsolo. Esta equipe foi forjada há anos durante o planejamento da invasão do Iraque. A BP foi encarregada, então, pelo Ministério do petróleo inglês de realizar estudos técnicos e de fornecer assessoria, análise e formação para o campo petrolífero de Rumaila. Nas palavras de Ethical Consumer: “(...) antes da invasão, a BP treinava as tropas inglesas para manter e dirigir os campos petrolíferos que tinham sido apoderados no sul do Iraque. A gigante estadunidense Halliburton, que fornece serviços às empresas para a exploração, o desenvolvimento e a produção de petróleo e gás, foi encarregada de restaurar e reconstruir a infraestrutura petroleira e, nesta condição, acompanhava as tropas aos campos petrolíferos” (13). Há alguns dias, um consórcio dirigido pela BP conseguiu o contrato para desenvolver o maior campo petrolífero do Iraque, Rumaila. Não é possível contar toda a história de canalhices da BP em poucas páginas, nem as conseqüências de seus negócios na geopolítica, na balança da guerra e da paz, na economia, no meio ambiente e no mundo em geral, envolvendo desde a política do Oriente Médio até pessoas sem posses, às vezes assassinadas em comunidades remotas. Essas notas oferecem apenas um vislumbre da enormidade de crimes cometidos por essa empresa. A BP não representa nenhuma exceção entre as empresas petroleiras nem entre as grandes corporações. Sua história, além do vazamento de petróleo no Golfo do México, constitui um exemplo mais de seu enorme poder e impunidade. E não há nada reconfortante na notícia da semana anterior que nos informa que o novo governo de coalizão britânico considera conveniente nomear o antigo chefe executivo da BP (1995-2007), também antigo diretor não executivo de Goldman Sachs e “O Rei Sol”, Lord Browne, como o novo superdiretor de Whitehall, encarregado de difundir, no coração do governo, o espírito de valores comerciais” (14). Enquanto isso, a linguagem dos impunes delata bastante a continuada presença da bota. Em junho, um porta-voz da Casa Branca afirmou que a tarefa do presidente Obama é apertar a bota no pescoço da BP, enquanto que o jornal inglês The Telegraph (15) diz que a bota de Obama aperta o pescoço dos pensionistas ingleses. Na verdade, os impunes diretores e funcionários fabulosamente bem remunerados da BP estão calçando as mesmíssimas botas e pisoteiam gente indefesa. Notas: 1. Juliet Eilperin, 2010 “U.S. Exempted BP’s Gulf of Mexico Drilling from Environmental Impact Study”, The Washington Post, 5 de mayo. 2. Stephen Kinser, 2003, All the Shah’s Men: An American Coup and the Roots of Middle East Terror, John Wiley and Sons, p.204. 3. Con respecto a DSC, véase http:www.sourcewatch.org/index.php?title=Defence Systems Limited#Colombia. 4. Véase el informe de la ONG Platform, Greg Muttitt and James Marriott, 2002, “Line of Fire: BP and Rights Abuses in Colombia”, http://www.platformlondon.org/carbonweb/documents/chapter11.pdf. 5. Terry Macalister, “Cree Aboriginal Group to Join London Climate Camp Protest over Tar Sands”, The Guardian, 23 de agosto de 2010. 6. Hannah Holleman y Rebecca Clausen, 2008, “Biofuels, BP-Berkeley and the New Ecological Imperialism”, http://mrzine.monthlyreview.org/2008/hc160108.html. 7. John Byrne, 2010 “Obama Is Biggest Recipient of BP’s Politicap Action Cash in the Last Twenty Years”, The Raw Story, 5 de mayo, http://rawstory.com/rs/2010/0505/obama-biggest-recipient-bp-political-action-money-20-years/. 8. Erica Lovley, 2010, “Obama Biggest Recipient of Bp Cash”, Politico, 5 de mayo, http:www.politico.com/news/stories/0510/36783.html. 9. Nick Webb, 2010, “Goldman Directors Reap Fees of €9.5m”, Sunday Independent, 23 de mayo de 2010. 10. Véase http://www.trilateral.org/membship/bios/ps.htm 11. Véase http://rawstory.com/rs/2010/0602/month-oil-spill-goldman-sachs-sold-250-million-bp-stock/. 12. John Swaine and Robert Winnett, 2010, “BP Chief Tony Hayward Sold Shares Weeks Before Oil Spill”, The Telegraph, 5 de junio. 13. Véase http://www.ethicalconsumer.org/CommentAnalysis/CorporateWatch/IraqWarProfits.aspx. 14. Polly Curtis y Terry Macalister, “Former BP Chief John Browne Gets Whitehall Role”, The Guardian, 30 de junio de 2010. 15. Louise Armitstead y Myra Butterworth, 2010, “Barack Obama’s Attacks on BP Hurting British Pensioners”, The Daily Telegraph, 9 June http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/northamerica/usa/barackobama/7815713/Barack-Obamas-attacks-on-BP-hurting-British-pensioners.html. (*) Julie Wark é integrante do Conselho Editorial de SinPermiso. Tradução: Katarina Peixoto 06/07/2010 Futebol e racionalidade Por CLAUDIO WEBER ABRAMO A irracionalidade parece ser uma característica essencial do futebol. Dificilmente alguém discordaria da afirmação caso fosse restrita ao futebol brasileiro, em relação ao qual os exemplos são permanentes. Tudo o que envolveu a seleção brasileira nos últimos quatro anos se explica quando se introduz o elemento da insanidade. A maluquice começou com a nomeação de um treinador cuja única notoriedade residia no fato de ser um brucutu semialfabetizado (lembram-se da cabeçada que aplicou num jogador de sua própria equipe, em plena partida, num jogo da Copa de 1998?). Permitir-se que um membro da comissão técnica escolha pessoas para exercer funções objetivas (como olheiro e chefe da segurança, conforme se noticiou) por conta de sua obediência a uma seita religiosa só pode ser resultado de doideira. Igualmente insano foi admitir-se que o capitão da seleção brasileira, ao qual se conferiu a responsabilidade de ler um texto contra o racismo na abertura da partida contra a Holanda, enfiasse no final uma menção religiosa, como é típico dessa gente sempre disposta a enfiar suas crendices goela abaixo de todo mundo. Não consta que a CBF ou a FIFA tivessem tomado alguma providência a respeito da pirataria cometida. Sob o ponto de vista estritamente futebolístico, o quê, além de parafusos soltos, poderia justificar a escolha de um jogador que não apenas havia sido eleito como o pior do campeonato italiano como também é conhecido por sua propensão a agredir adversários? Mas não é só no Brasil que essas coisas ocorrem. Os argentinos, por exemplo, não ficam atrás. Não se conhecem os detalhes mais ridículos da irracionalidade que envolve ou envolveu a seleção argentina, mas se sabe que por lá impera um tal de Grondona, o Ricardo Teixeira portenho. Foi esse o sujeito que contratou Maradona, um alucinado conhecido. Esse sujeito, após convocar mais de cem candidatos, terminou com um time desprovido de defesa, tendo sido expeditamente despachado por causa disso. Prova adicional que o futebol é mesmo algo inexplicável é que o “comandante” argentino, embora a equipe que montou tenha sido massacrada com humilhação, tenha sido recebido pelos torcedores como herói. Vai entender. E os franceses, então? O técnico francês escolhia jogadores com base no horóscopo. Como é que pode? Na França! Os ingleses, por seu turno, contrataram (por 6 milhões de libras por ano) um italiano que não fala inglês. Não contentes, assinaram com o camaradinha um contrato que os amarra até 2012. A esta altura, o eventual leitor poderá objetar, com razão, mais ou menos na seguinte linha: não é possível que o futebol seja irracional, pois em torno dele giram negócios bilionários. A Copa do Mundo é um empreendimento altamente rentável. A FIFA, a CBF, as suas congêneres argentina, francesa, inglesa etc. se enchem de grana. É isso, precisamente, que explica a aparente irracionalidade do futebol. Para os cartolas de um país qualquer, não tem a menor importância se o time é um lixo, se o treinador é um aventureiro ou se o jogador é um moleque. Interessa o negócio. Mesmo que a seleção nacional do país X seja eliminada (com ou sem vexame), se os negócios estiverem garantidos, tudo estará numa boa. Como se trata de entidades privadas, os dirigentes de federações e confederações só prestam contas uns aos outros. Em outras palavras, não importa o que façam com a grana – uma mão lava a outra e estão todos conversados. Melhor ainda é morder uma bufunfa pública. Os estádios da África do Sul, um país que não joga futebol, aí estão já a mofar. Por aqui, pode-se ter certeza de que a cartolagem nacional está olhando a grana pública com olho gordo, para a adaptação (e mesmo construção, caso se confirme o aparente contrassenso do tal de Piritubão) de estádios para a Copa de 2014. Precisarão ser vigiados de pertíssimo. De modo que ficar discutindo se o próximo técnico da seleção brasileira será Fulano ou Beltrano não tem realmente relevância. Claudio Weber Abramo Diretor executivo/Executive Director Transparência Brasil Por Juca Kfouri às 22:24 "DiaSemGlobo" Pessoas já tinha ouvido esse assunto, mas recebi duas outras mensagens sobre o tema e resolvi aderir ao "Dia sem Globo". Afinal , sempre é saudável participarmos de movimentos contra-hegemô nicos. Só temos de nos cuidar p?á não sairmos de uma hegemonia prá outra!! rsrsrsrs Entonces, repasso uma das msg que recebi logo abaixo. Bom jogo a todos/as. Nelton Assunto: "DiaSemGlobo"... Junte se a nós e participe do *?Dia Sem Globo? * em apoio a Dunga. O técnico da seleção brasileira abriu fogo contra a Rede Globo.Dunga deu na canela do comentarista Alex Escobar, da Globo. Poucas horas depois, um dos apresentadores do programa Fantástico, Tadeu Schmidt, da África leu um editorial da emissora detonando Dunga. Tudo tem um porque, antes do ataque ao Dunga no Fantástico, o Jornal O Globo já havia descido a lenha na seleção e principalmente no seu treinador. Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento ? Vamos aos fatos : Segunda feira, *véspera do jogo de estréia* da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul. Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc. Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a esposa do poderoso William Bonner sentenciou : ? Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores... ? Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação: ? Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de ?REPORTAGEM EXCLUSIVA? para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma...? Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada !!! ? Mas... - prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de esportes de O Globo ) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria?. Dunga: - ? Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!? O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir. Dunga pode até perder a classificação, a Copa , seu time pode até tomar uma goleada, qualquer fiasqueira na África, mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência frente a uma das instituições privadas mais poderosas no País e que tem por hábito impor suas vontades, eis que é líder de audiência e por isso se acha acima do bem e do mal. A reação do povo foi imediata.O editorial lido no programa "Fantástico", da Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual. E pela primeira vez na história o Brasil inteiro apóia o técnico da Seleção. Só a Globo para conseguir isso... Dentre os assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (21/06), a frase "Cala boca, Tadeu Schmidt" era líder absoluta --superou até a antecessora "Cala Boca, Galvão", que liderou por dias seguidos os Trending Topics. E não parou por ai. Em apoio ao técnico da seleção brasileira, os twiteiros lançaram o "DiaSemGlobo", que será nessa sexta-feira, quando o Brasil vai jogar com a seleção de Portugal, no encerramento da primeira fase da copa. Todo mundo em outra emissora, não vamos sintonizar a Globo na sexta-feira, temos que começar a deixar de ser gado manso, mostrar que não somos trouxas manipuláveis. "Se eu não empunhar a espada, Não posso te proteger. Mas se eu empunhar a espada, Não posso te abraçar". Tite Kubo (autor de mangá) BJ, Analise da Silva Fórum Metropolitano de EJA de BH Agenda Territorial Mineira todo império tem um ciclo ascenção - apogeu e queda acredito que estamos entrando na era do início da queda Império Romano, Austríaco, Otomano, Inglês, o 3º Reich deram com os burros n'água, por que não a Globo?! Será que a emissora julga-se acima desta máxima? Adoro História e penso que ela sempre se repete, com conotações diversas de acordo com o momento, mas jamais falha - sempre ascenção-apogeu e queda....isso não muda Os desinformados, claro, não sabem disso Os poderosos, narcisos, psicopatas e autoritários acham que podem mudar esta máxima...kkkkk.... Pura ilusão....excesso de confiança...excesso de tudo.... Mas não tardam por esperar Não é praga não, é apenas a constatação histórica de quem esta acostumado a acompanhar os ciclos da recente história humana Vou aderir ao boicote marcella Dia "SemGlobo" em apoio a Dunga. O técnico da seleção brasileira abriu fogo contra a Rede Globo. Dunga deu na canela do comentarista Alex Escobar, da Globo. Poucas horas depois, um dos apresentadores do programa Fantástico, Tadeu Schmidt, da África leu um editorial da emissora detonando Dunga. Tudo tem um porque, antes do ataque ao Dunga no Fantástico, o Jornal O Globo já havia descido a lenha na seleção e principalmente no seu treinador. Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento?Vamos aos fatos: Segunda feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul. Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc. Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a esposa do poderoso William Bonner sentenciou: “Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores...”. Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da Sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação: “Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de “REPORTAGEM EXCLUSIVA” para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma...”. Brilhante!!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada!!! “Mas... - prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o Renato (Maurício Prado, chefe de redação de esportes de O Globo) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria”. Dunga: - “Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo (Teixeira) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!”. O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir. Dunga pode até perder a classificação, a Copa, seu time pode até tomar uma goleada, qualquer fiasqueira na África, mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência frente a uma das instituições privadas mais poderosas no País e que tem por hábito impor suas vontades, eis que é líder de audiência e por isso se acha acima do bem e do mal. Em linguagem popular, o Dunga simplesmente mijou na Vênus Platinada! Sugiro uma estátua para ele!!! Após, a poderosa Globo, a mesma que levou o Collorido ao poder e depois o detonou por seus interesses, agora difama o Dunga, tá certo que o cara é meio Ogro, mas não teve o direito de se defender dos ataques em momento algum. Vcs se lembram de quando o Galvão falava em a "Era Dunga", ou "geração Dunga"?? Falar mal do cara é liberdade de imprensa. Ouvir o cara não pode? A reação do povo foi imediata. O editorial lido no programa "Fantástico", da Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual. E pela primeira vez na história o Brasil inteiro apóia o técnico da Seleção. Só a Globo para conseguir isso... Dentre os assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (21), a frase "Cala boca, Tadeu Schmidt" era líder absoluta, superou até a antecessora "Cala Boca, Galvão", que liderou por dias seguidos os Trending Topics. E não parou por ai. Em apoio ao técnico da seleção brasileira, os twiteiros lançaram o "DiaSemGlobo", que será nessa sexta-feira, quando o Brasil vai jogar com a seleção de Portugal, no encerramento da primeira fase da copa. Todo mundo na Band, ou em outra emissora, não vamos sintonizar a Globo na sexta-feira, temos que começar a deixar de ser gado manso, mostrar que não somos trouxas manipuláveis. VAMOS FAZER O BRASIL INTEIRO PENSAR !!!!! Let's live it up.


Domingo, 19 de Setembro de 2010 - 11:26


André Singer: A história e seus ardis. O lulismo posto à prova em 2010


André Singer aplica às eleições de 2010 sua tese do "realinhamento" do eleitorado brasileiro, caracterizado pela adesão das classes baixas ao "lulismo" (por verem em Lula a possibilidade de ascensão social sem confronto) e pelo afastamento da classe média tradicionalmente petista, após o escândalo do mensalão.


ANDRÉ SINGER, para a Folha de S. Paulo


CONTA-SE QUE CERTA VEZ o engenheiro Leonel Brizola teria levado o metalúrgico Lula ao túmulo de Getúlio Vargas em São Borja (RS). Lá chegando, o gaúcho pôs-se a conversar com o ex-presidente. Depois de algumas palavras introdutórias, apresentou o líder do PT ao homem que liderou a Revolução de 1930: "Doutor Getúlio, este é o Lula", disse, ou algo parecido. Em seguida, pediu que Lula cumprimentasse o morto. Não se sabe a reação do petista. Será que algum dos personagens do encontro pressentiu que, naquela hora, estavam sendo reatados fios interrompidos da história brasileira? Desconfio que não.
Os tempos eram de furiosa desmontagem neoliberal da herança populista dos anos 1940/50. Mesmo aliados, em 1998 PT e PDT -praticamente tudo o que restava de esquerda eleitoralmente relevante- perderiam para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. O consulado tucano parecia destinado a durar pelo menos 20 anos e trazer em definitivo o neoliberalismo para o Brasil.
BRECHA Foi por uma brecha imprevista, aberta pelo aumento do desemprego no segundo mandato de FHC, que Lula encontrou o caminho para a Presidência da República. Para aproveitá-la, fez substanciais concessões ao capital, pois a ameaça de radicalização teria afastado o eleitorado de baixíssima renda, o qual deseja que as mudanças se deem sem ameaça à ordem.1
Apesar da pacificação conquistada com a "Carta ao Povo Brasileiro" ter sido suficiente para vencer, o subproletariado não aderiu em bloco. Havia mais apoio entre os que tinham renda familiar acima de cinco salários mínimos do que entre os que ganhavam menos do que isso, como, aliás, sempre acontecera desde 1989. Ainda que as diferenças pudessem ser pequenas, elas expressavam a persistente desconfiança do "povão" em relação ao radicalismo do PT.
Depois de 2002, tudo iria mudar. A vitória levaria ao poder talvez o mais varguista dos sucessores do dr. Getúlio. Não em aspectos superficiais, pois nestes são expressivas as diferenças entre o latifundiário do Sul e o retirante do Nordeste. Tampouco no sentido de arbitrar, desde o alto, o interesse de inúmeras frações de classe, fazendo um governo que atende do banqueiro ao morador de rua. Dadas as condições, todos os presidentes tentam o mesmo milagre. O que há de especificamente varguista é a ligação com setores populares antes desarticulados. Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou.
BURGUESIA EM CALMA Mas em 1º de janeiro de 2003 ninguém poderia prever o enredo urdido pela história. Para manter em calma a burguesia, o mandato inicial de Lula, como se recorda, foi marcado pela condução conservadora nos três principais itens da macroeconomia: altos superavits primários, juros elevados e câmbio flutuante. Na aparência, o governo seguia o rumo de FHC e seria levado à impopularidade pelas mesmas boas razões.
De fato, 2003 foi um ano recessivo e causou desconforto nos setores progressistas. Ao final, parte da esquerda deixou o PT para formar o PSOL. Mesmo com a retomada econômica no horizonte de 2004, Brizola deve ter morrido em desacordo com Lula, por ter transigido com o adversário.
Ocorre que, de maneira discreta, outro tripé de medidas punha em marcha um aumento do consumo popular, na contramão da ortodoxia. No final de 2003, dois programas, aparentemente marginais, foram lançados sem estardalhaço: o Bolsa Família e o crédito consignado. Um era visto como mera junção das iniciativas de FHC. O segundo, como paliativo para os altíssimos juros praticados pelo Banco Central.
Em 2004, o salário mínimo começa a se recuperar, movimento acelerado em 2005. Comendo o mingau pela borda, os três aportes juntos começaram a surtir um efeito tão poderoso quanto subestimado: o mercado interno de massa se mexia, apesar do conservadorismo macroeconômico.
Nas pequenas localidades do interior nordestino, na vasta região amazônica, nos lugares onde a aposentadoria representava o único meio de vida, havia um verdadeiro espetáculo de crescimento, o qual passava despercebido para os "formadores de opinião".
PASSO DECISIVO Quando sobrevém a tempestade do "mensalão" em 2005 -e, despertado do sono eterno pela reedição do cerco midiático de que fora vítima meio século antes no Catete, o espectro do dr. Getúlio começa a rondar o Planalto-, já estavam dadas as condições para o passo decisivo.
Em 3 de agosto -sempre agosto-, em Garanhuns (PE), perante milhares de camponeses pobres da região em que nascera, Lula desafiou os que lhe moviam a guerra de notícias: "Se eu for [candidato], com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez".
Até então, a ligação entre Lula e os setores populares era virtual. Chegara ao topo cavalgando uma onda de insatisfação puxada pela classe média. Optou por não confrontar os donos do dinheiro. Perdeu parte da esquerda. Na margem, acionou mecanismos quase invisíveis de ajuda aos mais necessitados, cujo efeito ninguém conhecia bem.
Foi só então que, empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto.
PLACAS TECTÔNICAS Os setores mais sensíveis da oposição perceberam que fora dada a ignição a uma fagulha de alta potência e decidiram recuar. A hipótese de impedimento foi arquivada, para decepção dos que não haviam entendido que placas tectônicas do Brasil profundo estavam em movimento.
Em 25 de agosto, um dia depois do aniversário do suicídio de Vargas, Lula podia declarar perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que a página fora virada: "Nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez o João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência". Uma onda vinda de baixo sustentava a bonomia presidencial.
O Lula que emerge nos braços do povo, depois da crise, depende menos do beneplácito do capital. Daí a entrada de Dilma Rousseff e Guido Mantega em postos estratégicos, o que mudou aspectos relevantes da política macroeconômica. Os investimentos públicos, contidos por uma execução orçamentária contracionista, foram descongelados no final de 2005. O salário mínimo tem um aumento real de 14% em 2006.
POLARIZAÇÃO Para o público informado, a constatação do que ocorrera ainda demoraria a chegar. Foi preciso atingir o segundo turno de 2006 para que ficasse claro que o povo tinha tomado partido, ainda que em certos ambientes de classe média "ninguém" votasse em Lula.
A distribuição dos votos por renda mostra a intensa polarização social por ocasião do pleito de 2006. Pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes.
Embora, do ponto de vista quantitativo, a mudança relevante tenha se dado em 2002, o que define o período é o duplo movimento de afastamento da classe média e aproximação dos mais pobres. Por isso, o mais correto é pensar que o realinhamento começa em 2002, mas só adquire a feição definitiva em 2006. Como, por sinal, aconteceu com Roosevelt entre 1932 e 1936.
SEGUNDO MANDATO Assentado sobre uma correlação de forças com menor pendência para o capital, o segundo mandato permitirá a Lula maior desenvoltura. Com o lançamento do PAC, fruto de um orçamento menos engessado, aumentam as obras públicas, as quais vão absorver mão de obra, além de induzir ao investimento privado.
Em 2007, foi gerado 1,6 milhão de empregos, 30% a mais do que no ano anterior. A recuperação do salário mínimo é acelerada, com aumento real de 31% de 2007 a 2010, contra 19% no primeiro mandato, conforme estimativa de um dos diretores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)2. A geração de emprego e renda explica os 70% de aprovação do governo desde então.
Nem mesmo a derrubada da CPMF, com a qual a burguesia mostrou os dentes no final de 2007, reduziu o ritmo dos projetos governamentais. A transferência de renda continuou a crescer. Foi só ao encontrar a parede do tsunami financeiro, no último trimestre de 2008, que se interrompeu o ciclo ascendente de produção e consumo. Teria chegado, então, segundo alguns, a hora da verdade. Com as exportações em baixa, o lulismo iria definhar.
COMPRAR SEM MEDO Mas o lulismo já contava com um mercado interno de massa ativado, capaz de contrabalançar o impacto da crise no comércio exterior. A ideia, difundida pelo presidente, de que a população podia comprar sem medo de quebrar, ajudou a conter o que poderia ser um choque recessivo e a relançar a economia em tempo curto e velocidade alta.
Além da desoneração fiscal estratégica, como a do IPI sobre os automóveis e os eletrodomésticos da linha branca, o papel dos bancos públicos -em particular o do BNDES- na sustentação das empresas aumentou a capacidade do Estado para conduzir a economia. Numa manobra que lembra a de Vargas na Segunda Guerra, Lula utilizou a situação externa para impulsionar a produção local.
Surge uma camada de empresários -Eike Batista parece ser figura emblemática, como notava dias atrás um economista-, dispostos a seguir as orientações do governo. A principal delas é puxar o crescimento por meio de grandes obras, como as de Itaboraí -o novel polo petroquímico no Estado do Rio-, as de Suape (PE) e de Belo Monte, na Amazônia. Cada uma delas alavancará regiões inteiras.
Por fim, a aliança entre a burguesia e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir.
PROJETO PLURICLASSISTA A candidatura Dilma representa o arco que o lulismo construiu. A ex-ministra, por sua biografia, é talhada para levar adiante um projeto nacional pluriclassista. O fato de ter sido do PDT até pouco tempo atrás não é casual. A mãe do PAC tem uma visão dos setores estratégicos em que a burguesia terá que investir, com o BNDES.
O povo lulista, que deseja distribuição da renda sem radicalização política, já dá sinais de que o alinhamento fechado em 2006 está em vigor. Em duas semanas de propaganda eleitoral na TV, Dilma subiu 9 pontos percentuais e Serra caiu 5. À medida que os mais pobres adquirem a informação de que ela é a candidata de Lula, o perfil do seu eleitorado se aproxima do que foi o de Lula em 2006. Ou seja, o voto em Dilma cresce conforme cai a renda, a escolaridade e a prosperidade regional.
A classe média tradicional, em que pese aprovar o governo, continuará a votar na oposição, como demonstram a dianteira de Serra em Curitiba e o virtual empate em São Paulo, municípios em que o peso numérico das camadas intermediárias é significativo.
Parte delas, sobretudo entre os jovens universitários, deverá optar por Marina Silva. Isso explica por que os que têm renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos dão 12 pontos percentuais de vantagem para a soma de Serra e Marina sobre Dilma na pesquisa Datafolha concluída em 3/9.
O problema da oposição é que esse segmento reúne apenas 14% do eleitorado, de acordo com a amostra utilizada pelo Datafolha, enquanto os mais pobres (até dois salários mínimos de renda familiar mensal) são 48% do eleitorado. Nesse segmento, Dilma possui uma diferença de 22 pontos percentuais sobre Serra e Marina somados! Se vier a ganhar no primeiro turno, será graças ao apoio, sobretudo, dos eleitores de baixíssima renda, como ocorreu com Lula na eleição passada.
REALINHAMENTO A feição popular da provável vitória de Dilma confirma, assim, a hipótese que sugerimos no ano passado a respeito da novidade que emergiu em 2006. Se estivermos certos, por um bom tempo o PSDB precisará aprender a falar a linguagem do lulismo para ter chances eleitorais. Não se trata de mexicanização, mas de realinhamento, o qual significa menos a vitória reiterada de um mesmo grupo e mais a definição de uma agenda que decorre do vínculo entre certas camadas e partidos ou candidatos.
Quando um governo põe em marcha mecanismos de ascensão social como os que se deram no New Deal, e como estamos a assistir hoje no Brasil, determina o andamento da política por um longo período. Num primeiro momento, trata-se da adesão dos setores beneficiados aos partidos envolvidos na mudança -o Partido Democrata nos EUA, o PT no Brasil.
Com o passar do tempo e as oscilações da conjuntura, os aderentes menos entusiastas podem votar em outro partido, mesmo sem romper o alinhamento inicial. Foi o que aconteceu com as vitórias do republicano Eisenhower (1952 e 1956) e dos democratas Kennedy (1960) e Johnson (1964).
Mas para isso a oposição não pode ser extremada, como bem o percebeu a hábil Marina Silva. Até certa altura da sua campanha, José Serra igualmente trilhou esse caminho. Foi a fase em que propôs cortar juros e duplicar a abrangência do Bolsa Família.
Depois, tragado pela lógica do escândalo, retornou ao caminho udenista da denúncia moral, que só garante os votos de classe média -o que, no Brasil, não ganha eleição. Convém lembrar que no ciclo dominado pelo alinhamento varguista, a UDN só conseguiu vencer com um candidato: Jânio Quadros, que falava a linguagem populista. Fora disso, resta o golpe, sombra da qual estamos livres.
DURAÇÃO Qual será a duração do ciclo aberto em 2002, completado em 2006, e, aparentemente, a ser confirmado em 2010? O realinhamento abrange, por definição, um período longo. O último que vivemos, dominado pelo oposicionismo do MDB/PMDB, durou 12 anos (1974-86) e foi sepultado, quem sabe antes do tempo, pelo fracasso em controlar a inflação. A resposta para o atual momento também deve contemplar a economia.
Por isso, as condições de manter, pelo menos, o ritmo de crescimento médio alcançado no segundo mandato de Lula, algo como 4,5% de elevação anual do PIB, estarão no centro das preocupações do novo presidente. Sem ele, as premissas do lulismo ficam ameaçadas. Recados criptografados sobre a necessidade de reduzir a rapidez do crescimento e de fazer um ajuste fiscal duro já apareceram na imprensa, dirigidos a Dilma, provável vencedora.
O capital financeiro -apelidado na mídia de "os mercados"- vai lhe cobrar o tradicional pedágio de quem ainda não "provou" ser confiável. Caso os reclamos de pisar no freio não sejam atendidos, sempre haverá o recurso de o BC -cuja direção deverá continuar com alguém como Henrique Meirelles, senão o próprio- aumentar os juros. O aumento real do salário mínimo no primeiro ano de governo, que dependerá da presidente, pois o PIB ficou estagnado em 2009, será outro teste relevante.
CABO DE GUERRA Convém notar que, no segundo mandato de Lula, ainda que de modo relutante, o BC foi obrigado a trabalhar com juros mais baixos. Mas o cabo de guerra será reiniciado no dia 3 de janeiro de 2011. Com os jogadores em posse de um estoque de fichas renovados pela eleição, uns apostarão em uma recuperação do espaço perdido, outros numa aceleração do caminho trilhado no segundo mandato.
O PMDB, elevado à posição de sócio importante da vitória, atribuiu-se, na campanha, o papel de interlocutor com o empresariado. O PT, possivelmente fortalecido por uma bancada maior, deverá, pela lógica, fazer-lhe o contraponto do ângulo popular. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro, servirá de termômetro para o balanço das respectivas forças.
O futuro do lulismo dependerá de continuar incorporando, com salários melhores, os pobres ao mundo do trabalho formal. Em torno desse ponto é que se darão os principais conflitos e se definirá a extensão do ciclo. Alguns analistas da oposição alertam para a proximidade de um índice de emprego que começará a encarecer a mão de obra e gerar inflação. Como mostra Stiglitz,3 é a conversa habitual dos conservadores para brecar a expansão econômica.
Por fim, não se deve esquecer que uma palavra decisiva sobre esses embates virá de São Bernardo, onde residirá o ex-presidente, bem mais perto da capital do que foi, no passado, São Borja.
Aguardam-se os conselhos de Vargas e Brizola, dos quais poderemos tomar conhecimento naquelas mensagens psicografadas por Elio Gaspari.


Notas
1. Ver André Singer. "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", "Novos Estudos", 85, nov 2009. Link para o artigo em folha.com/ilustríssima
2. Ver João Sicsú. "Dois Projetos em Disputa". "Teoria e Debate", 88, mai/jun 2010.
3. Ver Joseph Stiglitz, "Os Exuberantes Anos 90", Companhia das Letras, 2003.
Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou
Empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto
Em 2006, pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes
A aliança entre a burguesia e o povo, que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir


Marcadores: André Singer, Brizola, Carta ao Povo Brasileiro, Dilma Rousseff, Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Lulismo, Marina Silva


POSTADO POR ALEXANDRE PORTO



MANIFESTO DA ALN E DO MR-8



Escrito a quatro mãos pelo Gabeira e por Franklin Martins, em 1969, com exigências pela libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick, na fase mais negra da ditadura militar e da tortura e morte de quem teve a coragem de lutar pela volta da democracia em nosso país. Reproduzo apenas a metade final do manifesto.


"A vida e a morte do sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências são:
a) A libertação de quinze prisioneiros políticos. São quinze revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses quinze homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.
b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país.
Os quinze prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado - Argélia, Chile ou México - onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação.
A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os quinze companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma “situação excepcional". Nas "situações excepcionais", os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da junta militar.
As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.
O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte.
Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.
Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente.”
Ação Libertadora Nacional (ALN)
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)"
Para quem não viveu essa época - ou perdeu a memória - informo que a ditadura se viu forçada a libertar os 15 presos e os sequestradores devolveram o embaixador são e salvo.
Foi a primeira grande derrota da ditadura militar e dos torturadores. A última grande derrota destes acontecerá no próximo dia 3 de outubro.
Postado por LACERDA às 17:19
Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de hoje.